"Meus filhos escaparam das minhas mãos", diz pai de garoto sírio que se afogou
- Murad Sezer/Reuters
O sírio Abdullah Kurdi, o pai do garoto de três anos Aylan Kurdi, que morreu afogado ao tentar chegar à Grécia na quarta-feira (2), relatou nesta quinta como ocorreu o acidente com o barco que afundou no Mar Egeu próximo às praias de Bodrum, na Turquia.
Uma fotografia do corpo do menino, vestindo uma camiseta vermelha e bermuda, com o rosto afundado na areia, estampou jornais de todo o mundo nesta quinta-feira, gerando indignação pela falta de ação de países desenvolvidos na ajuda a refugiados.
Abdullah foi o único sobrevivente da família Kurdi. O irmão de Aylan, Galip, de 5 anos, e sua mãe, Rehan, de 35, também estão entre as ao menos 12 pessoas, incluindo outras crianças, que morreram depois que dois barcos colidiram enquanto tentavam chegar à ilha grega de Kos.
Em declaração à polícia obtida pela imprensa turca, Abdullah disse que pagou duas vezes a traficantes para levar ele e sua família à Grécia, mas as tentativas falharam. Ele então decidiu encontrar um barco e remar sozinho, mas a embarcação começou a encher de água e virou quando as pessoas entraram em pânico.
"Eu estava segurando a mão de minha esposa. Mas meus filhos escaparam das minhas mãos. Tentamos nos segurar no barco, mas ele estava esvaziando. Todos estavam gritando no escuro. Não consegui fazer com que minha voz fosse ouvida por minha esposa e filhos", disse ele.
Apelo
"Queremos a atenção do mundo sobre nós, para prevenir que isto aconteça com outros. Que esta seja a última vez", declarou Abdullah. "Quero que o mundo inteiro nos escute e veja aonde chegamos tentando escapar da guerra. Vivo um grande sofrimento. Faço esta declaração para evitar que outras pessoas vivam o mesmo."
De acordo com Abdullah, 16 membros da família que combatiam o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) morreram em Kobani, palco de enfrentamento entre os extremistas e as forças curdas, onde os Kurdi moravam. Seu desejo agora é enterrar sua esposa e os dois filhos ao lado dos parentes e não sair mais da Síria.
"Recebi uma oferta do governo do Canadá para morar lá, mas depois do que aconteceu não quero ir. Vou levá-los primeiro a Suruç [cidade turca na fronteira com a Síria] e depois a Kobani, na Síria. Passarei o resto da minha vida lá", contou. "Só quero ver meus filhos pela última vez e ficar para sempre com eles."""
Antes da tragédia, os Kurdi haviam pedido asilo no Canadá, onde vivem parentes da família, mas a solicitação foi negada em junho. Mesmo assim, esse era o destino planejado caso a família desembarcasse na Europa.
Teema Kurdi, tia dos meninos que vive na cidade canadense de Vancouver, disse ao jornal "National Post" que vinha tentando conseguir uma travessia mais segura para os parentes. Contou que vinha financiando a estadia deles na Turquia, mas que Abdullah tinha decidido entrar como refugiado na Europa por conta da situação precária em que estariam vivendo.
Suspeitos presos
A polícia da Turquia deteve nesta quinta-feira quatro sírios suspeitos de tráfico de pessoas. Eles seriam os organizadores da viagem do barco que naufragou no Mar Egeu perto do balneário turco de Bodrum. (Com agências internacionais)
Uol