“Que apodreça na cadeia”, clama mãe de garoto morto porque
bebeu achocolatado envenenado
“Quero que ele [comerciante] apodreça na cadeia. Ele é o
maior culpado de tudo isto”. O desabafo de dor é de Dani Cristina Perpetua da
Silva, mãe do garoto Rhayron Christian da Silva Santos, 2 anos, que morreu após
beber um achocolatado que foi envenenado pelo comerciante Adones José Negri, 61
anos. Em entrevista exclusiva ao Olhar Direto ela lamenta o ocorrido e também
as acusações que foram feitas de que ela seria usuária de drogas. O pai da
criança, Lázaro Figueiredo dos Santos, alegou que apenas comprou o produto -
por cinco reais - porque a família passava por dificuldade.
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criança de 2 anos são ouvidos
Dani contou que no dia do ocorrido, 25 de agosto, “estava
tudo normal, ele [criança] acordou e veio atrás de mim querendo mamar. Meu
marido estava deitado atrás de mim e falou que tinha um achocolatado na
geladeira e pediu só para olhar a validade, estava tudo certinho. Eles [menino
e a irmã] sempre tomaram e nunca fez mal. Dei dois goles para ele, tomei dois e
o resto ficou com ele, que nem bebeu tudo”.
Após isto é que a criança começou a sentir o efeito do
veneno: “Meu marido falou para ele ir dar um abraço, o Rhayron saiu correndo e
na metade do caminho começou a passar mal, ficar sem ar. Nisso eu coloquei o
dedo na boca dele, achando que estava engasgado. Ligamos para o Samu, mas antes
passou um senhor na minha rua de carro e o levamos até a Policlínica do
Coxipó”.
Já na unidade de saúde, a mãe conta que também começou a
passar mal e que teve de ir até o banheiro para vomitar. Dani ainda lembra que
um amigo da família tomou o achocolatado e também não se sentiu bem, sendo
inclusive internado. “Eu estava esperando meu filho, suando frio. Depois,
juntou um monte de enfermeiros no corredor, pediram para eu entrar na sala e lá
estava meu filho morto, entrei em desespero”.
“Disseram na policlínica que ele tinha engasgado, mas não
foi isto. Ele já tinha dois anos, não estava doente, só uma gripe fraca. Ele
não tinha caído, batido a cabeça, nada disto. Estávamos um dia antes na praça,
brincando. Meu filho era muito carinhoso comigo, o pessoal falava que era meu
‘rabinho’ porque sempre estava atrás de mim”, relembra Dani.
Lázaro, pai da criança, afirmou que comprou os achocolatados
em uma praça, próximo a sua casa: “Olhei as caixas, vi que estava tudo lacrado,
olhei a data de validade e achei que estava tudo normal. Dei cinco reais para
ele [Deuel Soares, responsável por furtar o produto] e levei embora. Só o
conheço de vista, de vê-lo andando na região”.
“Eu só comprei porque nós estávamos passando dificuldade. O
aluguel da outra casa que nós morávamos subiu e mudamos para onde estamos
agora. Quando nós estávamos desempregados, a nossa família também ajudava”,
disse o pai da criança.
Dani argumenta que não culpa Deuel pelo ocorrido: “Ele não
quis matar o meu filho. O maior culpado é o comerciante que envenenou o
achocolatado. Meu filho não tinha aproveitado nada na terra, não sabia o que
era shopping. É um absurdo o que estão dizendo que ele não vai ficar preso por
conta da idade. Ele tem que pagar pelo que fez, matou o meu filho e vai ficar
em casa? Eu quero que ele apodreça na cadeia”.
“Eu quero que a Justiça seja feita. Não culpo o Deuel
também”, disse o pai, que comprou o achocolatado do rapaz. “Se eu pudesse
voltar alguns minutos, eu não teria dado a bebida pro meu filho. Se não fosse
ele, seria outra pessoa a morrer. Justiça para mim é ele pagar e ficar preso.
Mas sei que a Justiça divina não vai falhar com ele. A mão de Deus é muito
pesada”, acrescentou a mãe.
Sobre as acusações e comentários de que ela seria usuária de
drogas, a mãe rebate: “Falaram que eu era usuária de drogas, fiquei
inconformada com isto. Pode ir na minha casa, fazer exame de sangue, tenho a
consciência limpa. Já perdi meu filho e ficam falando esse monte de mentiras.
Meu filho nunca passou fome, mesmo com a situação em que estávamos. Chegamos a
vender até espetinho para conseguir alguma renda. Eu quero que o responsável
pague, o Rhayron não vai voltar mais”
“A gente ainda acha que ele vai voltar. Ele era muito
carinhoso, dizia que me amava, era um anjo. Toda hora estava beijando a gente.
Não tem explicação a dor que eu tenho no meu coração. É muito ruim, quero tanto
que ele volte. No dia do enterro eu não queria que o sepultassem”, contou a
mãe.
Lázaro também lembrou da falta que o menino faz para a irmã,
que tem três anos: “A irmã do Rhayron fica a todo momento perguntando dele.
Tudo que ela pega quer levar para o irmão. Fomos em uma loja, ela ganhou um
balão rosa, viu um azul e levou para ele. Chegou em casa e não deixou ninguém
tocar”.
A advogada da família, Nadeska Calmon, informou ao Olhar
Direto que tentará fazer com que o comerciante seja indiciado por homicídio
doloso, já que ele tinha intenção de matar quando colocou o veneno na bebida.
Além disto, também está sendo estudada uma ação civil, pedindo indenização.
O caso
Cansado de ser vítima de furtos de um morador [Deuel] do
bairro Parque Cuiabá, o comerciante, Adones José Negri, teria inserido veneno
nos recipientes depois de perceber que o ladrão tinha uma predileção pela
bebida. Após realizar o furto das caixas de achocolatado, o assaltante revendeu
o material para o pai do menino, que ofertou a bebida a criança sem saber o que
se passava.
Ainda conforme apurado pela reportagem, o homem que vendeu o
achocolatado estava dormindo na Praça Ipiranga por medo de ser linchado no
bairro. No início das investigações, ele fugiu para a cidade de Alto Garças.
Porém, a pedido da família ele retornou à capital mato-grossense.
O caso chamou atenção na última semana, após o lote da
bebida, da marca Itambé, ter sido interditado pela Vigilância Sanitária do
Estado de Mato Grosso. Depois do anúncio da morte, que aconteceu na Policlínica
da capital, informou que tinha comprado cinco caixas do achocolatado de um
vizinho. Ela relatou que também passou mal, assim como um tio da criança.
Itambé
Em nota enviada à reportagem, a empresa informou que a
polícia esclareceu "o episódio e descarta qualquer problema de
contaminação do produto Itambezinho". Além disto, "reforça que desde
o dia 25/05, data de fabricação do lote em questão, já foram comercializadas
mais de 5 milhões de unidades e não foram registradas reclamações de nenhuma
natureza".
Por fim, "lamenta o ocorrido, se solidariza com a dor
da família e reforça seu compromisso com os consumidores brasileiros ao
entregar produtos da mais alta qualidade". Desde o início do caso, a
empresa tem prestado todas as informações à imprensa e autoridades, inclusive
realizando testes nos produtos, os quais não apontaram nenhum irregularidade.
Confira outros trechos da entrevista:
OLHARDIRETO