Chacina da Lapa, 30 anos depois
A última operação sangrenta dos órgãos de repressão política da ditadura militar ocorreu em dezembro de 1976, em São Paulo, quando agentes do Exército assassinaram três dirigentes do então clandestino Partido Comunista do Brasil (pcdob): João Baptista Franco Drummond, Ângelo Arroyo e Pedro Pomar. Outros seis militantes foram presos, cinco deles torturados sistematicamente durante semanas.
O episódio ficou conhecido como "Massacre da Lapa" ou "Chacina da Lapa", porque o desfecho da operação foi o ataque a tiros, na manhã de 16 de dezembro, à casa 767 da rua Pio xi, no bairro da Lapa, onde o comitê central do PCdoB reunira-se entre 11 e 15 de dezembro de 1976.
O Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (doi-codi) do i e ii Exércitos executaram o ataque, que contou também com a participação de torturadores como o tenente-coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra e o delegado Sérgio Fleury, do DOPS.
O cerco que precedeu o ataque durou quatro dias e contou com cerca de 50 agentes. Um ofício confidencial revela que o Estado-Maior do ii Exército pediu à Secretaria de Segurança Pública, com 48 horas de antecedência, que bloqueasse a rua Pio xi na manhã de 16 de dezembro. As prisões efetuadas foram realizadas, com uma única exceção, antes do ataque, na medida em que os participantes da reunião deixavam a casa.
Tudo isso prova que Arroyo e Pomar poderiam ter sido capturados, ao invés de metralhados. Para justificar as mortes, o Exército informou que houve "resistência armada", e a equipe de Fleury "plantou" armas no local. O Exército também mentiu sobre Drummond, alegando que ele morreu "atropelado". Na verdade, o jovem militante estava sendo torturado no DOI-CODI, na rua Tutóia, quando conseguiu desvencilhar-se e fugir, mas despencou ao lado da torre de rádio.
A operação da Lapa contradiz frontalmente o mito criado pelo governo Geisel sobre o "fim dos excessos" após a destituição do general Ednardo - vila do comando do II Exército, provocada pelos assassinatos de Vladimir Herzog (em outubro de 1975) e Manoel Fiel Filho (em janeiro de 1976). Alegou-se, na época, que a substituição de Ednardo pelo general "moderado" Dilermando Gomes Monteiro encurralara a linha-dura militar e banira para sempre dos quartéis a tortura e os assassinatos dos militantes da esquerda.
A execução de Pomar e Arroyo, a morte de Drummond e as torturas a que foram submetidos os demais militantes do PCdoB nas dependências do i e ii Exércitos eram do conhecimento e tinham a aprovação de vários oficiais, inclusive Dilermando, o homem que Geisel colocou à frente do II Exército no lugar de Ednardo.
Massacre na Lapa: Como o Exército liquidou o Comitê Central do PCdoB - São Paulo, 1976, de Pedro Estevam da Rocha Pomar é o mais completo e detalhado relato deste episódio, e ganha agora esta 3ª edição revista.
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