Demora na demarcação de terras contribui para "matança de índios", diz filha de cacique assassinado
Elaine Patricia Cruz *
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - A demora do governo federal em concluir o processo de demarcação de terras reivindicadas por índios da etnia guarani-kaiowá, em Mato Grosso do Sul, está contribuindo para a "matança de indígenas" no estado. A avaliação é da professora Valdelice Veron, filha do cacique Marcos Veron, assassinado em janeiro de 2003. Valdelice é, hoje, uma das principais lideranças guarani da região.
“[A demora] está contribuindo para a morte de crianças na beira de estrada, diarreia, fome e destruição. Também está contribuindo com a morte prematura e com abortos espontâneos. Estamos morrendo silenciosamente. Estão acabando silenciosamente com nosso modo de ser. Queremos nossa terra de volta para reconstrui-la”, disse Valdelice.
Por sua luta contra a violência que atinge os povos indígenas, ela recebeu do Conselho Federal de Psicologia, na semana passada, o 2º Prêmio Paulo Freire de Psicologia.
Dados do relatório Violência contra os Povos Indígenas, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), indicam que 32 índios foram assassinados em Mato Grosso do Sul no ano passado. O número representa 62,7% dos 51 assassinatos registrados no período em todo o país. Do total de mortos, 27 eram da etnia guarani-kaiowá. O estado também abrigou o maior número de casos de tentativas de assassinatos (85) e de suicídios (13) registrados pelo Cimi.
Segundo Valdelice, o processo de demarcação da terra guarani-kaiowá precisa ser concluído urgentemente, pois a situação do grupo está "muito difícil".
“Queremos a demarcação [de nossa terra], que já está identificada. Basta o ministro da Justiça [José Eduardo Cardozo] e a [presidenta da República] Dilma [Rousseff] assinarem para nós. É isso o que a gente quer para parar o genocídio, o massacre que está acontecendo hoje em Mato Grosso do Sul", declarou Valdelice. "Está uma situação muito difícil, principalmente para as mulheres, crianças, grávidas e os idosos. Para quem vamos pedir socorro? O Ministério Público Federal, quando esteve lá, teve que correr porque eles [fazendeiros] atiraram por cima. E quando pedimos [ajuda] para a Polícia Federal, ela está em greve”, disse.
O cacique Marcos Veron foi morto a coronhadas por seguranças contratados para desocupar a Fazenda Brasília do Sul, em Juti (MS), em fevereiro de 2003. Os acusados Carlos Roberto dos Santos, Jorge Cristaldo Insabralde e Estevão Romero foram inocentados pela morte do cacique, mas condenados por sequestros, tortura, lesão corporal e formação de quadrilha.
Procurada desde a última sexta-feira (21) para comentar as declarações de Valdelice, a Fundação Nacional do Índio (Funai), órgão ligado ao Ministério da Justiça e responsável pela demarcação de terras indígenas, ainda não se manifestou.
* colaborou Alex Rodrigues // Edição: Lílian Beraldo
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Opine com responsabilidade sem usar o anonimato usando a Liberdade de Expressão assegurado pelo artigo 5º da Constituição Federal.
Liberdade de expressão é o direito de todo e qualquer indivíduo de manifestar seu pensamento, opinião, atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, sem censura, como assegurado pelo artigo 5º da Constituição Federal.