Governo
anuncia, mas milho não chega para o Nordeste
Na tarde dessa segunda (17)
representantes da CONTAG estiveram reunidos com o secretário nacional de
Política Agrícola, Caio Rocha, o superintendente da Conab, Rafael Borges Bueno
e equipe. O encontro aconteceu a pedido das Federações de Trabalhadores e Trabalhadoras
na Agricultura (FETAGs) do Nordeste, para tratar da questão do abastecimento de
milho na região. Isso porque o governo federal está descumprindo com o que
anunciou e os leilões que está realizando estão destinando pouco milho para o
Nordeste, segundo avalia a CONTAG. Das 400 mil toneladas do cereal nos estoques
oficiais divulgadas pelo governo federal, a serem distribuídas para socorrer os
produtores das regiões onde as cotações do produto estão acima da média, em
virtude da quebra da safra nesse período de estiagem, até o momento só chegaram
para o Nordeste apenas 71mil toneladas, das 209 mil contratadas. O governo
afirma que já estão a caminho, sendo transportadas, mais 138 mil toneladas. Ou
seja, apenas a metade do que fora propagado. Para agravar ainda mais a
situação, essa quantidade não é destinada apenas aos agricultores familiares e
é dividida entre médios e grandes produtores da região. “Sabemos que essa não é
a primeira reunião para tratar do assunto e nem se trata aqui de uma visita que
estamos fazendo para contar histórias. O governo precisa ter sensibilidade. O
ministério não está resolvendo o problema e precisamos de uma saída concreta e
afirmativa para a situação. A presidenta Dilma anunciou programas de apoio às
vítimas da seca, mas até agora o Programa do Milho não vem atendendo aos mais
necessitados”, critica Antoninho Rovaris, secretário de Política Agrícola da
CONTAG.
A grande preocupação das
federações, segundo a direção da CONTAG, é de que os novos contratos levem mais
tempo para chegar, além da informação de que existe a possibilidade de o
exército fazer o transporte desse alimento sem, contudo, ter experiência nesse
tipo de logística. Outro dado relatado pelos representantes da confederação diz
respeito ao acesso ao Programa do Milho: “Os agricultores familiares são
minoria no cadastramento do programa. Estaremos reunidos amanhã para termos uma
radiografia mais precisa com relação à situação e ao quadro que se configura em
todo o Nordeste”, informa Aristides Santos, secretário de Finanças e
Administração da CONTAG, referindo-se ao encontro das FETAGs em Fortaleza.
Nos estados de Pernambuco,
Sergipe, Alagoas, Rio Grande do Norte, e Paraíba a situação é ainda mais grave.
Diante disso, a CONTAG faz pressão para que o governo cumpra com seu papel. “O
governo anunciou, mas não criou as condições necessárias para cumprir com seu
compromisso. Isso é complicado, principalmente em ano de eleições municipais. É
papel do governo resolver essa situação, que é emergencial”, analisa Alberto Broch,
presidente da CONTAG. Broch defende um percentual diferenciado para a
agricultura familiar. “Esse público deve ter direito a um valor acessível
porque sua demanda é pelo milho para subsistência. Penso que não é justo que o
grande pague o mesmo que o pequeno”, justifica.
O deputado estadual Manoel
Santos (PT), presente na reunião, demonstrou sua preocupação com o quadro.
“Essa não é uma política justa, muito menos respeitosa, e os trabalhadores e
trabalhadoras rurais não podem aceitar isso. Em um ano eleitoral, pensar no uso
de um programa à custa de uma situação de emergência, de seca e de fome, é um
grande risco”, dispara o deputado, representando Pernambuco, falando sobre as
distorções que estão ocorrendo ligadas à existência de atravessadores, ao poder
dos que detêm mais recursos para comprar para estoque e ao fato de que o milho
não está chegando para os que mais precisam.
O secretário de Políticas
Sociais da CONTAG, José Wilson, lembra que apesar do Ceará ser o estado aonde
chegou maior quantidade de milho, mesmo assim no local a distribuição não está
sendo eficiente. Wilson alerta que são muitas as críticas e denúncias de que o
cereal não está chegando aos produtores e que é necessária sensibilidade para
tratar do assunto. “O governo deve entrar com subsídio, é claro, para garantir
o preço do produto e conter as oscilações de mercado. Mas, é necessário
perceber também que a questão do milho não é de economia, de ganhar ou não
dinheiro, mas sim de sobrevivência dos animais”, referindo-se à realidade
específica do Nordeste.
Alegando problemas de
infraestrutura, principalmente ligados ao transporte, Caio Rocha tenta se
explicar: “Reconhecemos a veracidade dos fatos apresentados. Acontece que
estamos tendo problemas de transporte”. O secretário exige de sua equipe maior
precisão nos dados apresentados ao movimento sindical e a definição de um
calendário de ações. Já o superintendente da CONAB anunciou quantitativos de
entrega do milho para alguns estados e comprometeu-se a apresentar uma relação
do produto em processo de entrega e de licitação. Mas, a verdade é que o governo está mesmo é
descumprindo com seu compromisso e os dirigentes sindicais começam a se
inquietar. “Esse é o momento de se fazer uma distribuição rápida, igualitária e
sem privilégios, para os que mais estão necessitando”, exige Antoninho Rovaris,
referindo-se as 105 mil toneladas de milho que começam a ser embarcadas na
próxima semana, das quais 60 mil vão direto para a região Sul e não para o
Nordeste, para onde devem estar indo apenas 40 mil toneladas. Rovaris
reivindicou também que a CONTAg participe de uma possível reunião entre os
secretários de agricultura estaduais e o ministério da agricultura,
pré-agendada para os próximos dias.
FONTE: Imprensa Contag -
Maria do Carmo de Andrade Lima
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