Colegas de exílio defendem Dirceu
Na semana em que o julgamento do mensalão no STF chegará ao fim, com a possibilidade de condenação do ex-ministro..
Na semana em que o julgamento do mensalão no STF chegará ao fim, com a possibilidade de condenação do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu por formação de quadrilha, ex-presos políticos exilados com o então líder estudantil no México e, depois, em Cuba saem em defesa do velho companheiro.
Eles aparecem lado a lado na histórica foto de 6 de dezembro de 1969, no auge da ditadura militar, quando Dirceu e outros 12 foram trocados pelo embaixador americano sequestrado Charles Elbrick. Depois de mais de quatro décadas, recebem com pesar a possibilidade de vê-lo novamente preso, agora em pleno regime democrático.
"Dirceu é inocente, aquilo não tinha nada a ver com ele", diz o ex-deputado Vladimir Palmeira, defendendo "absoluta ausência de provas" para condenar o antigo companheiro e ainda amigo. Palmeira deixou o PT em junho de 2011, em protesto pela reintegração do ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, pivô do mensalão, à legenda seis anos após ser expulso por envolvimento no escândalo.
Ele diz que o PT age como um "partido autocrático, acima da lei", concorda que houve caixa 2, mas poupa Dirceu. "Era evidente que o Delúbio tinha culpa, no processo está claro. Mas quem conhece bem o PT, quem conviveu ali, sabe que o Delúbio nunca foi ligado ao Dirceu", diz, chamando de "piada" a acusação de formação de quadrilha contra o ex-ministro da Casa Civil pelo ministro Joaquim Barbosa.
Palmeira acha que José Dirceu foi vítima de uma "ampla campanha para desestabilizar o governo do PT" e que "os juízes (do STF) sem dúvida foram envolvidos numa atmosfera política da grande imprensa e da opinião pública". Para ele, condenar Dirceu como chefe de quadrilha mostra que a democracia - a mesma democracia que os dois amigos dizem ter ajudado a conquistar - "tem erros".
Na mesma linha, o jornalista e escritor Flávio Tavares, outro companheiro da época, diz-se decepcionado com a degradação política brasileira, da qual Dirceu seria um "bode expiatório". "O mensalão é o fato mais gritante, mas não é o único. E os que exigiram ser subornados para integrar a base 'alugada' do governo? Eram de vários partidos!"
"Durante a ditadura tínhamos dois partidos e eleições nas capitais, o mesmo simulacro político que existe hoje, em que os partidos operam por pequenas vantagens e a política é feita visando às eleições. Isso não é democracia, mas partidocracia", diz Tavares.
O jornalista enxerga no velho companheiro Dirceu, hoje abatido e com a fala bem menos assertiva do que quando era o homem forte do governo Lula, a mesma coragem dos tempos de militante contra a ditadura. Naquele 6 de dezembro de 1969, na base aérea do Galeão, no Rio, antes de serem trocados por Elbrick e partirem para o exílio no México, Tavares cochichou aos ouvidos dos colegas presos políticos que mostrassem as algemas. Somente José Dirceu o fez. "Depois disso, a grande mostra de coragem do Dirceu foi ele voltar ao Brasil clandestino em 1972, quando nenhum de nós ousou voltar. Era a morte." Para o companheiro, Dirceu ainda "se sacrificou em 2005 ao renunciar para não prejudicar o presidente Lula. Ele blindou o governo do PT em pleno tiroteio e, assim, assumiu toda a responsabilidade sobre o escândalo". "Foi um ato de extrema coragem", diz.
Tavares, porém, não poupa o amigo: "Dirceu é um homem corajoso, valoroso, mas entrou na política e, ao fazê-lo, assumiu todos os vícios graves inerentes à partidocracia, da qual os maiores nomes são Paulo Maluf, Roberto Jefferson, José Sarney, Fernando Collor...".
José Ibrahim, dirigente nacional da União Geral dos Trabalhadores (UGT) e um dos 13 presos políticos na foto com Dirceu, acredita que o companheiro e amigo esteja vivendo "um linchamento político". "Vejo tudo isso com enorme tristeza, mas isso faz parte da política. O Zé (José Dirceu) fez um jogo muito arriscado e está sendo julgado por isso, mas vai saber levar mais essa fase com dignidade, como sempre o fez".
O ex-deputado pelo PT Ricardo Zarattini, outro ex-preso político e ex-funcionário de Dirceu na Casa Civil, também defende o amigo: "Chamá-lo de chefe de quadrilha é inadmissível".
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