Procurador
vê consistência em denúncia e aumenta desgaste de Renan
Roberto
Gurgel afirma que acusação formal encaminhada ao Supremo contra o senador por
uso de notas frias em 2007 foi 'ponderada e refletida com o máximo cuidado';
peemedebista, que evita comentar denúncias, reuniu-se com Sarney e Temer
BRASÍLIA
- Enquanto costura nos bastidores sua candidatura à Presidência do Senado e
tenta minimizar o impacto de denúncias com a ajuda de seu partido, Renan
Calheiros (PMDB-AL) sofreu nessa terça-feira, 29, novo desgaste político. O
procurador-geral da República, Roberto Gurgel, classificou como
"extremamente consistente" a denúncia apresentada por ele ao Supremo
Tribunal Federal (STF) contra o senador. "Foi uma iniciativa ponderada,
examinada, refletida com o máximo cuidado e extremamente consistente",
disse Gurgel.
Na
sexta-feira passada, o procurador encaminhou uma denúncia ao STF acusando
Calheiros de apresentar em 2007 notas fiscais frias relacionadas à venda de
bois. O objetivo do senador era comprovar rendimentos que teriam sido
utilizados para pagar pensão a uma filha. Na época, surgiu a suspeita de que a
pensão teria sido custeada por um lobista. Renan respondeu a processo de
cassação e renunciou à presidência da Casa na ocasião.
A
denúncia da Procuradoria-Geral da República foi fundamentada em relatórios de
inteligência financeira e informações fiscais fornecidas pela Receita. O
material estava sendo preparado, segundo Gurgel, há meses.
O
procurador negou que a apresentação da denúncia uma semana antes da eleição no
Senado tenha motivação política. "A iniciativa foi extremamente ponderada.
Tenho sempre muito cuidado com isso, mas não posso ficar subordinado. As
pessoas estão sempre concorrendo a cargos. Não pode ficar o Ministério Público
de mãos atadas, subordinado a só oferecer denúncia quando seja politicamente
conveniente", afirmou.
Gurgel
disse ainda que o inquérito que investigou Renan Calheiros é "extremamente
volumoso" e que a análise dos documentos consumiu muito tempo. "Todo
mundo sabe que no segundo semestre de 2012 o procurador-geral ficou por conta
do mensalão", disse. "Isso infelizmente retardou a apreciação não
apenas deste, mas de uma série de outros feitos", afirmou, numa referência
ao julgamento que durou um semestre e culminou com a condenação de 25 pessoas
suspeitas de envolvimento com o esquema de compra de votos no Congresso durante
o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O
inquérito que investiga o senador Renan Calheiros tramita em sigilo no Supremo
Tribunal Federal. O relator, ministro Ricardo Lewandowski, deverá estudar a
denúncia e posteriormente levá-la a julgamento no plenário do Supremo. Se a
denúncia for aceita, um processo criminal será aberto contra o senador e ele
passará à condição de réu. Não há previsão de quando o tribunal, que está em
recesso até esta sexta-feira, analisará a denúncia.
Reação.
Horas depois das declarações de Gurgel, o presidente do PMDB, senador Valdir
Raupp (RO), declarou "achar estranho" a denúncia de Gurgel às
vésperas da eleição do novo presidente do Senado. "Respeito o Ministério
Público e o procurador Roberto Gurgel. É da natureza do Ministério Público (a
denúncia), mas causou estranheza o momento. Ele fez a denúncia na véspera da
eleição. Mas, repito, tenho todo o respeito ao Ministério Público", disse.
Raupp
considerou comum o MP ter apresentado denúncia envolvendo pessoas que ocuparam
cargos públicos, mas negou que haja qualquer constrangimento ao fato de Renan
ser o candidato da sigla a ocupar a presidência do Senado no próximo biênio.
"Não
encontramos nenhuma prova de irregularidade nas acusações contra ele. Por ser o
maior partido no Senado, o PMDB tem a prerrogativa de indicar o nome para
presidir a Casa. No entanto, os senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e Pedro
Taques (PDT-MT) pretendem disputar o cargo na eleição que acontecerá na próxima
sexta-feira. Renan é o único nome do PMDB", disse Raupp.
A
bancada do PMDB no Senado vai se reunir na tarde desta quinta-feira, 31, para
indicar oficialmente o nome de Renan para o cargo. Além das denúncias do
passado, também há revelações políticas recentes que arranham a imagem de
Renan. O Estado publicou reportagem na semana passada revelando que o senador
utilizou sua influência política para turbinar contratos do Minha Casa, Minha
Vida com empreiteiras em Alagoas. Uma das empreiteiras que mais se beneficiou
tem como sócios aliados políticos de Renan Calheiros. O Ministério das Cidades
e o Ministério Público de Alagoas abriram investigações sobre o caso.
Discrição.
Renan tem evitado a imprensa e comentários sobre as denúncias. Nessa terça ele
participou de reunião com correligionários na casa do atual presidente do
Senado, José Sarney (PMDB-AP), para discutir a sucessão. O vice-presidente da
República, Michel Temer, estava presente.
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