01-. 1.0 – FUNÇÃO DE UMA ESTAÇÃO DE
TRATAMENTO DE ESGOTO
A eficiência e a capacidade nominal de uma
estação de tratamento de esgotos são definidas a partir de uma série complexa
de fatores específicos a cada caso estudado.
O tratamento pode atingir diferentes níveis
denominados tecnicamente de tratamento primário, secundário ou terciário. A
Figura 1.1, mostra esquematicamente a composição de uma estação de tratamento
completo, até a desinfecção final.
O tratamento primário envolve a remoção de
sólidos grosseiros através de grades, geralmente, e a sedimentação (caixa
retentora de areia e decantadoras) ou flotação de materiais constituídos
principalmente de partículas em suspensão.
Essa fase produz quantidade de sólidos que
devem ser dispostos adequadamente. De maneira geral, os sólidos retirados em
caixas retentoras de areia são enterrados, e aqueles retirados de em
decantadores devem ser adensados e digeridos adequadamente para posterior
secagem e disposição em locais apropriados. As formas de tratamento desse
lodo variam de maneira bastante ampla.
O tratamento secundário, por sua vez,
destina-se a degradação biológica de compostos carbonáceos. Quando é feita essa degradação,
naturalmente ocorre a decomposição de carboidratos, óleos e graxas e
proteínas a compostos mais simples, tais como: CO2, H2O, NH3, CH4, H2S, etc,
dependendo do tipo de processo predominante. As bactérias que efetuam o
tratamento, por outro lado, se reproduzem e têm sua massa total aumentada em
função da quantidade de matéria degradada.
Caso se empregue o processo aeróbio, para
cada quilograma de DBO removida ocorre a formação de cerca de 0,4 a 0,7
quilograma de bactérias (matéria seca) e, caso se opte pelo processo
anaeróbico, tem-se para cada quilograma de DBO removida a formação de 0,2 a
0,20 quilograma de bactérias aproximadamente.
A pequena formação de biomassa do processo
anaeróbio em relação ao aeróbio, é uma das grandes vantagens ao uso das
bactérias que proliferam em ambiente anaeróbio pelo tratamento de efluentes,
pois o custo e a dificuldade para tratamento, transporte e disposição final
do lodo biológicos são bastante reduzidos, no caso.
Geralmente, o volume de lodo no processo
anaeróbio, em termos práticos é menor que 20% do volume produzido no processo
aeróbio, para um mesmo efluente líquido.
Após a fase em que é feita a degradação
biológica, os sólidos produzidos devem ser removidas em unidades específicas
para esse fim (lagoas de sedimentação, decantadores, flotadores, etc) e,
posteriormente são submetidos a adensamento, digestão, secagem e disposição
adequada.
Dependendo do tipo de processo adotado
pode-se recircular uma parcela da massa de bactérias ativas, de volta ao
reator biológico. Conforme mostrado na Figura 1.1. Essa alternativa permite o
aumento da produtividade do sistema e maior estabilidade no seu desempenho.
De maneira geral, a maioria das estações
construídas alcançam apenas o nível de tratamento secundário, aqui descrito,
porém, em muitas situações, é obrigatório que esse tratamento alcance o nível
denominado terciário.
COLAR FIGURA
O efluente do tratamento secundário ainda
possui Nitrogênio e Fósforo em quantidade, concentração e formas que podem
provocar problemas no corpo receptor, dependendo de suas condições
especificas, dando origem ao fenômeno conhecido como eutrofização, que é
sentido pela intensa proliferação de algas.
O Tratamento terciário tem por objetivo, no
caso de esgotos sanitários, a redução das concentrações de Nitrogênio e
Fósforo, e é, geralmente fundamentado em processos biológicos realizados em
duas fazes subseqüentes denominadas nitrificação e desnitrificação. A remoção
de fósforo também pode ser efetuada através de tratamento químico, com
sulfato de alumínio, por exemplo.
Na nitrificação, o nitrogênio é levado á
forma de nitrato e posteriormente, na desnitrificação, é levado à produção de
N2, principalmente, que é volatizado para o ar.
O tratamento terciário também produz lodo,
que deve ser adensado, digerido, secado e disposto corretamente.
Em essência, as operações e os processos
descritos destinam-se a remoção de sólidos em suspensão e da carga orgânica,
restando agora, para completar o tratamento, que se cuide da remoção de
organismos patogênicos.
Sistemas de tratamento que envolvem
disposição no solo ou lagoas de estabilização, em muitos casos, já têm a
capacidade de efetuar redução considerável no número de patogênicos,
dispensando assim um sistema especifico para desinfecção.
Nos outros casos, ainda se faz necessária a
previsão de instalações para a desinfecção, que geralmente é efetuada através
do uso do cloro, ozônio e, mais recentemente, radiação ultravioleta.
2.0 – ALTERNATIVAS PARA TRATAMENTO
2.1 – Introdução
Antes de serem descritas as principais
alternativas para tratamento de esgotos sanitários é interessante que sejam
destacadas algumas observações sobre o tratamento primário e sobre alguns
parâmetros utilizados para o dimensionamento.
Como já foi descrito anteriormente, o
tratamento primário visa a remoção de sólidos grosseiros, óleos e graxas, e
de sólidos em suspensão, com eficiência tal que permita o bom funcionamento
das partes seguintes que compõem uma estação de tratamento. Dependendo do
tipo de tratamento adotado, os componentes do tratamento primário podem
variar, conforme as alternativas destacada a seguir, sendo, porem, a caixa
retentora de areia uma unidade que raramente pode ser dispensada.
Alternativa
1: Grade
Caixa retentora
de areia
Medidor de vazão
Decantador
primário
Alternativa
2: Grade
Caixa retentora
de areia
Medidor de vazão
Peneira elástica
Alternativa
3: Grade
Caixa retentora
de areia
Medidor de vazão
Certos casos em que se opta pelo tratamento
por disposição no solo, pode-se utilizar como tratamento preliminar apenas o
gradeamento, seguido de medidor de vazão.
A dispensa de decantador primário e peneira
estática, geralmente só é admitida em sistemas de lagoas de estabilização e
sistemas denominados de oxidação total ou aeração prolongada. Mais
recentemente, também tem-se eliminado o decantador, quando se usam reatores
anaeróbicos de manta de lodo, porem, nesse caso, é obrigatório o uso de
gradeamento fino dos esgotos.
Para facilitar e tornar mais objetiva a
descrição sucinta de alternativas para tratamento secundário que serão
apresentadas no item 2.2, supor-se-á que o tratamento preliminar (ou
primário) já foi considerado adequadamente.
Ainda como esclarecimento inicial, serão
apresentados, a seguir, a simbologia de alguns parâmetros fundamentais
utilizados por projetistas para estudos e para dimensionamento de unidades de
tratamento de esgotos.
- Tempo
de detenção hidráulico (td): é o tempo médio (geralmente expresso em dias) em
que os despejos líquidos permanecem em uma unidade ou sistema.
td = volume do reator (m3) = dia
vazão media diária (m3/dia)
ou
td = altura ou comprimento de uma unidade
(m) = dia
Velocidade média do liquido (m/dia)
- Taxa
de carregamento orgânico (tco): é a quantidade de DBO, DQO ou de outro
parâmetro, expressa em Kg, que é aplica por dia por unidade de volume ou de
área de uma unidade.
Tco = Kg DQO/ m3. dia
ou
Tco = Kg DQO/ m2.dia
ou
Tco = Kg DQO/ha.dia
ha. = hectare = 10.000 m2
Quando a tco é referida por unidade de área
(m ou ha), esse parâmetro costuma ser chamado por taxa de aplicação
superficial.
- Taxa
de escoamento superficial (tes): é q quantidade de efluente liquido que é
aplicada por unidade de área de uma unidade durante um dia.
tes = vazão dos esgotos (m3/dia) = m3/
m2 .dia = m/dia
Área da unidade (m2)
- Tempo
de retenção celular (idade do lodo): é o tempo médio que os organismo que
promovem o tratamento, permanecem em uma unidade (dia).
Após esses esclarecimentos básicos,
essenciais para o entendimento dos critérios fundamentais para projeto, são
apresentados, no item 2.2, descrições sucintas sobre as seguintes
alternativas para tratamento:
Tipo Processo
predominante
- disposição
no solo
aeróbio e anaeróbio
- lagoa
facultativa
aeróbio e
anaeróbio
- sistemas
de lagoas tipo australiano
aeróbio e anaeróbio
- lagoa
aerada + lagoa de sedimentação
aeróbio e anaeróbio
- lodos
ativados convencional
aeróbio
- lodos
ativados (mistura completa)
aeróbio
-
valo de oxidação aeróbio
- lodos
ativados em reator do tipo batelada (batch)
aeróbio
- poço profundo aerado
(“Deep Shaft”) aeróbio
- filtro
biológico aeróbio
aeróbio
- filtro
anaeróbio
anaeróbio
- tanque
séptico + filtro anaeróbio
anaeróbio
- reator
anaeróbio de manta de lodo
anaeróbio
- reator
anaeróbio compartimentado (com chicanas)
anaeróbio
-
reator anaeróbio de leito fluidificado
anaeróbio
- reator
aeróbio de leito fluidificado
aeróbio
- processo
eletrolítico
físico-químico
No item seguinte é apresentada uma
abordagem sintética e objetiva sobre cada uma das alternativas mencionadas.
2.2 – Descrição sucinta de alternativas
para tratamento de esgotos sanitários.
2.2.1 – Disposição de esgotos no solo
A primeira evidencia do uso de tratamento
de esgotos no solo foi constatada na antiga Atenas. Atualmente existem muitos
sistemas funcionando, mesmo em paises desenvolvidos; talvez o mais antigo
possa ser atribuído á cidade de Bunzlaw (Alemanha), que está sendo operado há
mais de 300 anos.
O tratamento do solo, de maneira geral, é
conhecido por ações biológicas e físico-químicos, que ocorrem através de
fenômenos atribuídos ao solo, plantas, bactérias, fungos, protozoários,
vermes, etc.
Trata-se de solução muito interessante
quando se dispõe de área suficiente, com topografia adequada e a custos
acessíveis, desde que se tomem todos os cuidados relativos a segurança dos
trabalhadores e das comunidades vizinhas e também se respeite a capacidade do
solo e das plantas que crescem na área utilizada para esse fim. Quando se
adota essa alternativa deve-se previamente efetuar um estudo profundo sobre o
impacto que esse sistema provocará no ar, água e solo.
Na Figura 2.1 apresenta-se esquemas das
diferentes formas de se fazer disposição de esgotos no solo.
Figura
De maneira geral, são 3 as formas mais usuais
para a disposição de esgotos no solo a saber: irrigação, infiltração rápida e
escoamento superficial. No primeiro caso usam-se aspersores e é possível
explorar a ação das plantas (consumo de nutrientes e evapotranspiração) para
melhorar o tratamento.
No caso de infiltração rápida ocupam-se
áreas enormes, porem o problema de contaminação do lençol subterrâneo fica
agravado.
Quando se emprega a técnica de escoamento
superficial, também conta-se com a colaboração de ações de plantas e, nesse
caso, à jusante da área utilizada, deve-se dispor de um canal para a coleta
do excesso não infiltrado.
Sempre que se utilizar a disposição no solo
deve-se prever um amplo cinturão de proteção e área adicional de segurança.
2.2.2 – Lagoa Facultativa
O uso de lagoas facultativas é uma solução
simples e de baixo custo, quando se dispõe de área com topografia adequada e
de custo acessível.
Na Figura 2.2 apresenta-se o esquema de uma
lagoa facultativa com algumas características principais.
Neste caso, o único cuidado complementar é
a previsão de tratamento preliminar provido de grade e caixa retentora de
areia. De maneira geral adota-se taxa de carregamento orgânico inferior a 250
Kg de DBO/ha.dia, no dimensionamento dessa unidade.
Essa é uma alternativa extremamente simples
para construção, e que exige operação mínima, sem qualquer necessidade de se
contratar operador especializado.
Quando bem dimensionada, raramente uma
lagoa facultativa produz maus odores, porém recomenda-se que não sejam
construídas junto a áreas residenciais. Deve-se levar em consideração o
sentido predominante dos ventos e localizá-las a pelo menos 500 metros de
residências. Lagoas com geometria
adequada e com tempo de detenção da ordem de 30 dias, podem promover elevada
remoção de patogênicos, alcançando até a remoção de 99,99% de coliformes.
Figura
2.2.3 – Lagoa Anaeróbia + Lagoa Facultativa
O uso de lagoa anaeróbia seguida de
facultativa (sistema australiano) é uma das melhores soluções técnicas que
existem e também é uma das mais econômicas, quando se dispõe de área adequada
e de baixo custo.
Na figura 2.3 mostra esquematicamente um
sistema australiano.
Figura
Na primeira lagoa ocorre a retenção e a
digestão anaeróbia do material sedimentável e na segunda ocorre a degradação doas
contaminantes solúveis e contidos em partículas suspensas muito pequenas. O
lodo retido e digerido na primeira lagoa tem de ser removido em intervalos
que geralmente variam de 2 a 5 anos.
Na 1.ª lagoa predomina-se o processo
anaeróbio e , na 2.ª lagoa o aeróbio, onde atribui-se as algas a função da
produção e a introdução da maior parte do oxigênio consumido pelas bactérias.
Nesse caso como em todas as situações em
que se empregam lagoas, valem as mesmas recomendações destacadas em 2.2.2,
assim como, deve-se ter cuidado especial para evitar grandes quantidades de
líquidos infiltrados que podem degradar a qualidade da água do lençol
subterrâneo. Sugere-se o revestimento interno da lagoa com camada de argila,
pintura asfática, etc, para atenuar esses problemas.
2.2.4 – Lagoas de Maturação
Na realidade, as lagoas conhecidas como
lagoas de maturação não constituem, por si só, um sistema de tratamento, e
sim, são utilizadas como tratamento complementar de efluentes secundários.
Elas devem ser dimensionadas com taxas de carregamento orgânicos muito
inferiores do que aquelas empregadas para dimensionamento de lagoas
facultativas.
Comumente se empregam 2 lagoas em série,
com profundidade entre 1,0 e 1,5 m (ou menor), com função de melhorar a
qualidade do efluente tratado e de possibilitar maior eficiência na remoção
de organismos patogênico. Na figura 2.4 apresenta-se esquemas de 2 lagoas de
maturação em série.
Figura
Essas lagoas podem ser implantadas, por
exemplo, depois do sistema australiano, melhorando muito a qualidade do
efluente tratado principalmente na remoção de patogênicos.
Atualmente existem tendências a se colocar
chicanas nessas lagoas para aumentar a sua capacidade de remover organismos
patogênicos.
Essas técnicas (uso de chicanas) também
podem ser usadas em lagoas facultativas, porém, caso não seja feito estudo
criterioso, pode-se provocar a ocorrência de maus odores junto aos primeiros
compartimentos “criados” pelas chicanas.
2.2.5 – Lagoa Aerada + Lagoa de
Sedimentação de Lodo
Quando não se dispõe de área suficiente
para a implantação de sistemas de lagoas de estabilização naturais, porem
ainda dispõe de área considerável, pode-se utilizar sistemas constituídos por
lagoa aerada seguida por lagoa de sedimentação de lodo. Veja a figura 2.5
Figura
Nesse caso já se tem a necessidade de
efetuar a aeração, na primeira lagoa, empregando-se aeradores superficiais ou
difusores instalados no fundo da unidade.
Apesar de ser um sistema que exige
manutenção relativamente simples, já se tem um fator a mais, e de grande
importância, relacionado com o consumo de energia elétrica.
Essa lagoa aerada, quando precedida de
decantador primário, pode ter tempo de detenção menor, porem quando se usa
somente grade e caixa de areia, normalmente se emprega tempo de detenção
hidráulico superior a 2 a 3 dias.
Na aeração há a produção de lodo biológico
que tem que ser removido antes do lançamento do efluente no corpo receptor.
Por esse motivo emprega-se uma segunda lagoa que tem por objetivo a retenção
e a digestão desse resíduo.
Naturalmente esse lodo tem que ser removido
em intervalos regulares e disposto em local adequado. Geralmente efetua-se
limpeza dessa lagoa em intervalos de 2 a 4 anos.
2.2.6 – Sistemas de lodos ativados
convencional.
Esse processo provavelmente foi utilizado
pela primeira vez há cerca de 90 anos e constitui uma verdadeira revolução
tecnológica para tratamento de águas residuárias. Ele se baseia em processo
biológico aeróbio e parte do principio que se tem de evitar a fuga descontrolada
de bactérias ativas produzidas no sistema e que, portanto, deve-se
recircula-la de modo a se manter a maior concentração possível de
microorganismos ativos no reator aerado. Veja o esquema na figura 2.6, a
seguir:
Figura
Esses microorganismos produzem flocos que
podem ser removidos por sedimentação em decantador secundário (ou flotador
por ar dissolvido). Parte do lodo é recirculada ao reator aeróbio e parte é
descartada para o tratamento e destino final. Neste caso também é obrigatório
o uso de decantador primário.
Esses sistemas tem a vantagem de se basear
em tecnologia conhecida perfeitamente e de alta eficiência e, adicionalmente,
ocupa espaços relativamente pequenos quando se compara as propostas
anteriores; porém, a operação exige pessoal especializado e o consumo de
energia elétrica é bastante elevado.
Provavelmente, nos paises desenvolvidos
essa alternativa é empregada em mais de 90% das estações de médio e grande
porte.
|
Pesquisar este blog
quinta-feira, abril 11, 2013
PRA INICIO DE CONVERSA - 11/04/2013
Assinar:
Postar comentários (Atom)
BR-304/RN terá pontos parciais de interdição a partir de hoje
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) fará para interdições parciais no tráfego da BR-304/RN, em Mossoró, a parti...
-
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) fará para interdições parciais no tráfego da BR-304/RN, em Mossoró, a parti...
-
A dificuldade para pagar salários e honrar compromissos já levou pelo menos 73 municípios a decretarem estado de calamidade financeira ...
-
A guerra entre as facções afeta o cotidiano das famílias, que aguardam solução em frente ao presídioSumaia Villela A guerra entre o P...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Opine com responsabilidade sem usar o anonimato usando a Liberdade de Expressão assegurado pelo artigo 5º da Constituição Federal.
Liberdade de expressão é o direito de todo e qualquer indivíduo de manifestar seu pensamento, opinião, atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, sem censura, como assegurado pelo artigo 5º da Constituição Federal.