Concurso Revelando os Brasis cria cineastas em pequenas cidades
24/08/2013 - 13h42
- Cultura
Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Uma ideia na cabeça, uma câmera na mão e uma cidade de até 20 mil habitantes. Esses são os requisitos para quem quiser participar do 5º Concurso Nacional de Histórias do Revelando os Brasis. Qualquer morador com mais de 18 anos pode se inscrever até o dia 30 de setembro. As histórias podem ser baseadas em casos reais ou inventados e o candidato não precisa ter nenhuma experiência em vídeo. Uma comissão formada por profissionais das áreas do cinema e da comunicação escolherá 30 histórias.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos 5.568 municípios brasileiros, 3.919 têm até 20 mil habitantes. A diretora do Instituto Marlin Azul, idealizador e criador do projeto, Beatriz Lindenberg, explicou que embora o concurso, criado em 2003, tenha o objetivo de promover inclusão e formação audiovisuais por meio da produção de filmes em lugares com pouca ou nenhuma oferta de cinema, os desdobramentos do projeto foram muito além do que se pretendia,
“Muitos dos participantes acabaram entrando para a área de cinema, mudaram-se para uma cidade grande para fazer carreira no audiovisual, alguns montaram cineclubes, outros passaram a usar o audiovisual como ferramenta educativa nas escolas. Todos de alguma forma desenvolveram espírito crítico em relação à imagem e passaram a ser produtores culturais ou mobilizadores na sua comunidade em algum nível”, explicou. “Houve casos em que a mobilização da cidade em torno do projeto foi tão grande que gerou a criação de políticas públicas.”
Os autores selecionados participarão, a partir de novembro, de oficinas preparatórias de roteiro, direção, produção, direção de arte, fotografia, som, edição, mobilização comunitária e direitos autorais no Rio de Janeiro, com todas as despesas pagas pelo projeto. Na etapa seguinte, que deve começar em novembro e terminar em março, os diretores terão o apoio da estrutura de produção oferecida pelo Revelando os Brasis para gravar em seus municípios os filmes com até 15 minutos.
“Na última edição, das produtoras que contratamos para assessorar nas filmagens com equipamentos e profissionais, seis produtoras foram abertas por pessoas que iniciaram suas carreiras depois de participarem pelo Revelando os Brasis”, comemorou.
Nilma Teixeira Accioli, 62 anos, participou do concurso em 2009, quando produziu Ibiri, Tua Boca Fala por Nós, que conta a história de sonhos e perdas das seis irmãs Conceição da Silva, descendentes de escravos e parte da história de Iguaba Grande, região dos lagos fluminense. Em 2009, o filme ganhou o primeiro lugar no Festival do Filme de Pesquisa sobre Patrimônio e Memória da Escravidão Moderna na França e participou de vários festivais nos últimos anos.
“O projeto passa o filme na cidade em um telão. Na hora do lançamento, a cidade não esperava que elas [irmãs Conceição da Silva] aparecessem, pois são muito arredias. Então, quando elas chegaram foi uma emoção que até hoje não me esqueço. Uma cena incrível, as irmãs se vendo na tela, dialogando com elas mesmas, foi lindo”, disse.
Hoje, Iguaba Grande não pode mais participar do concurso, pois a população ultrapassou os 20 mil habitantes, mas o filme de Nilma gerou frutos. “O rapaz que me ajudou como assistente na produção acabou estudando cinema e hoje trabalha com produção de filmes no Rio de Janeiro”, disse. “Por outro lado, a ação mais impactante do projeto foi a mudança na relação da cidade com as irmãs. Havia muito preconceito, debochavam delas. Depois do filme, a câmara dos vereadores fez uma homenagem a elas, no desfile de 7 de Setembro, elas participaram e ao passarem na avenida principal, as pessoas aplaudiram muito”, lembrou Nilda.
Revelando os Brasis tem patrocínio da Petrobras, por meio da Lei Rouanet, parceria com o Canal Futura, parceria estratégica da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura e apoio da EBC, que ajuda na divulgação do concurso pela TV, pelo portal e pela rádio.
“É surpreendente o grande número de pessoas que sabem do projeto por meio da A Voz do Brasil, especialmente as pessoas que têm maior dificuldade de chegar até elas pela distância”, disse Beatriz que contou ter recebido inscrições das mais inusitadas, como cartas escritas em papel de pão.
Nas quatro primeiras edições do projeto foram produzidas160 obras, entre ficções e documentários. Os filmes são lançados em DVD com distribuição gratuita para organizações sociais e culturais, bibliotecas, universidades e cineclubes de todo o Brasil. A diretora do Marlin Azul explicou que está sendo costurada uma parceria de exibição entre o Canal Futura e a TV Brasil. “Junto com o Canal Futura, produzimos programas com os filmes do Descobrindo os Brasis e agora estamos tentando viabilizar a exibição na TV Brasil”, diz.
O regulamento e a ficha de inscrição estão disponíveis nos sites www.revelandoosbrasis.com.br ewww.cultura.gov.br
Mais informações pelo telefone (27) 3327-6999 ou pelo e-mail revelando@imazul.org
Edição: Fábio Massalli
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