“Brasil,
Ame-o ou Deixe-o”: regime divide sociedade com exílios e cassações:
Alana
Gandra - Repórter da Agência Brasil Edição: Davi Oliveira e Lílian Beraldo
O
regime instaurado pelo golpe de 1964 desestruturou a produção no país em vários
setores, com o exílio de cientistas, acadêmicos, artistas e políticos, sem
contar as cassações, aposentadorias compulsórias, prisões, torturas e mortes.
De acordo com a Comissão Nacional da Verdade, cerca de 50 mil pessoas tiveram a
cidadania diretamente violada durante o período, marcado pela intolerância do
lema criado pelo governo militar: “Brasil, ame-o ou deixe-o”.
Segundo
o Relatório Projeto Brasil Nunca Mais, no último ano do governo de Ernesto
Geisel, penúltimo presidente do ciclo militar, “já se computavam 10 mil
exilados políticos, 4.682 cassados por diversos meios, milhares de cidadãos que
passaram pelos cárceres políticos, centenas de mortos e desaparecidos, 245
estudantes expulsos da universidade por força do Decreto 477”. Considerado o
AI-5 das universidades, o decreto viabilizou a punição de alunos, professores e
servidores que incomodavam o regime.
Logo
nos primeiros dias do golpe, o Ato Institucional 1 cassou os direitos políticos
de 102 brasileiros, iniciando o que viria ser uma praxe do regime. O historiador
e professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do
Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), Francisco
Carlos Teixeira da Silva, destaca que, àquela época, havia uma “paranoia de se
ver comunistas em todos os lugares”.
O
que havia, segundo ele, eram pessoas que tinham uma concepção humanista e
transformadora da sociedade ou, simplesmente, pessoas que incomodavam os
outros. “Muita querela de trabalho, muita coisa que não tinha a ver com
política foi envolvida nisso, como uma forma de acerto de contas”, destaca. Uma
geração que lutava por mais democracia, direitos sociais e reformas foi
excluída da vida nacional.