11/06/2014| SAÚDE
Escuta
itinerante traz retrato da saúde no campo e na floresta
Um
trabalho conjunto da Ouvidoria Geral do SUS (Doges) e da Confederação Nacional
dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) ouviu 339 pessoas nos estados de
Pernambuco, Espírito Santo, Amazonas, Paraná e Mato Grosso do Sul sobre condições
de vida e saúde. O relatório final está no relatório Escuta Itinerante:acesso
dos povos do Campo e da Floresta ao SUS.
A
Ouvidoria Itinerante vai até os territórios com o objetivo de facilitar o
acesso dos cidadãos aos canais de participação do SUS. Depois, leva questões
aos setores do Ministério da Saúde responsáveis por ela.
Para
Jose Wilson Gonçalves, Secretário de Políticas Sociais da Contag, a importância
da escuta está na síntese de informações, que são transformadas em dados e
proporcionam instrumentos para o diálogo
e cobranças ao poder público. “Uma coisa é saber que as coisas acontecem, outra
é ouvir das próprias pessoas do jeito que eles viveram e as dificuldades que
ainda tem de acesso à saúde”, diz. “O produto desse trabalho nos dá elementos
para conduzir ação do movimento sindical e para questionar o governo, a partir
da escuta ele precisa buscar formas de dar resposta”, avalia. Ele destaca temas
como saúde da mulher e da terceira idade, além da questão dos agrotóxicos.
O
vídeo e o relatório são usados também como recursos pedagógicos nas atividades
de formação na área da saúde. “É um excelente instrumento para dar o pontapé
inicial de grande debate”, avalia. O vídeo pode ser acessado aqui.
Falta
de informações, dificuldade de acesso e atendimento desumanizado foram alguns
dos principais problemas encontrados. Apesar disso, a percepção geral sobre o
SUS é boa: avaliando a sua própria condição de saúde, atribuindo uma nota entre
0 e 5, a maioria dos entrevistados, ou seja, 86,06% atribuiu nota entre 3 e 5,
bem como 8,84% atribuiu nota entre 0 e 2, sendo 4 a nota mais mencionada,
36,87%. O relatório conclui que a população do campo e floresta reivindica o
fortalecimento do Sistema Único de Saúde, e não sua substituição ou superação.
A
pesquisa preocupou-se também com os espaços de participação no SUS. Diz o
relatório que “com a execução do projeto, ficou evidente a carência de
informações, a falta de apropriação de espaços para que o cidadão possa
dialogar com a gestão, garantindo seus direitos frente às políticas públicas. A
partir dessa realidade, a própria comunidade percebeu a necessidade da criação
e fortalecimento de espaços que proporcionem a participação e o controle social
de maneira efetiva.”
Principais
questões
O
relatório destaca como principais questões, entre outras:
Acesso geográfico – dificuldade de deslocamento até as unidades de saúde;
Saneamento básico deficiente;
Faltas de especialistas médicos;
Atendimento odontológico deficiente, incluindo também a falta de ações de
promoção e prevenção odontológica junto à comunidade rural;
Necessidade de um atendimento mais respeitoso e qualificado por parte da
categoria médica e de enfermagem;
Descumprimento da carga-horária por profissionais médicos;
Profissionais de saúde desqualificados prestando atendimento à comunidade;
Desvalorização dos profissionais de saúde pela própria gestão;
Rede básica de saúde desestruturada nos municípios interioranos;
Falta de materiais básicos, como luvas, seringas, material para curativo,
material
para realização do exame preventivo, entre muitos outros;
Demora na realização e entrega de exames laboratoriais e de imagem;
Relatadas situações de desrespeito, por parte da gestão municipal de saúde, em
relação ao Conselho Municipal de Saúde, aos conselheiros e suas atribuições;
Alta concentração de assistência em saúde em unidades de atendimentos de
urgência e emergência, pincipalmente em Pronto Socorro e UPA;
A necessidade do Ministério da Saúde qualificar os “gerentes dos recursos” nas
diferentes esferas governamentais;
Presença de equipes incompletas na Estratégia Saúde da Família;
Dificuldade em realizar o cadastramento para ter acesso ao CNS;
Usuários tendo atendimentos negados por falta do Cartão Nacional de Saúde –CNS,
principalmente em acampamentos rurais;
Apesar
dos participantes das atividades relatarem essas problemáticas, mencionaram
também ações exitosas do trabalho da gestão municipal e estadual em algumas
localidades. Situações bem pontuais, mais exemplos de gestão compromissada com
a oferta e garantia de saúde para comunidade.
Dados:
69% dos participantes da pesquisa afirmaram ter sofrido algum tipo de acidente
de trabalho. Quedas e acidentes perfuro cortantes foram as situações mais
referidas. A maioria das pessoas que sofreu acidente de trabalho (58,80%)
buscou e conseguiu atendimento no SUS, para 18,88% não foi necessário e 6,01%
informou que buscou um serviço do SUS, mas não foi atendido;
Problemas de coluna (14,80%), hipertensão (13,63%) e dores de cabeça constantes
(11,60%) foram os três problemas de saúde mais referidos;
Em relação aos atendimentos pelo SUS, as consultas médicas constituem o
procedimento mais utilizado, sendo atendido em 63% das situações, seguido de
exames e medicamentos, com, respectivamente, 48,38% e 44,25% de acesso
garantido. A atenção medicamentosa foi o serviço em que o acesso negado foi
mais referido, 11,21% dos entrevistados buscou atendimento e não conseguiu. Os
CAPS’s foram os serviços menos utilizados, 89,68% dos entrevistados não
precisaram deste serviço;
Em relação ao acesso geográfico, 70,21% dos participantes afirmaram que demoram
no máximo 30 minutos para o deslocamento de casa até o serviço de saúde mais
próximo, 10,03% demoram mais de uma hora. Os três meios de deslocamentos mais
utilizados para chegar até o serviço de saúde são: a pé (26,73%), carro próprio
23,01% e moto (20,29%);
A maioria dos participantes da pesquisa (76%) recebe visita de Agentes
Comunitários de Saúde, dentre estes, 60,08% referiu que a frequência das
visitas é mensal. Avaliando o atendimento do agente comunitário de saúde,
atribuindo nota entre o e 5, a maioria (71,31%) deu nota entre 3 e 5 e 25,96%
atribuiu nota de 0 a 2, sendo que 4 foi a nota mais mencionada, sendo atribuída
por 26,74% dos entrevistados;
As três práticas populares e ou tradicionais, que complementam e integram a
atenção à saúde mais mencionadas foram Rezadeira (11,37%), Benzedeira (11,37%)
e Raizeira (10,31%), e 51,58% respondeu que não faz nenhum uso;
Confira o relatório completo em:
http://saudecampofloresta.unb.br/wp-content/uploads/2014/03/Relat%C3%B3rio-final-CONTAG.pdf