Agropecuarista
defende mais florestas para combater falta d'água.
Vladimir
Platonow - Repórter da Agência Brasil Edição: Stênio Ribeiro
As
secas prolongadas que têm afetado diversos estados e levado à iminência de
racionamento na maior cidade do país, São Paulo, não se resolverão só com a
volta das chuvas. É preciso reflorestar as nascentes e margens dos rios para
garantir um suprimento de água confiável e perene. O alerta não vem de setores
ambientalistas, mas de um segmento durante muitos anos associado à derrubada
das matas: os agropecuaristas.
A
segurança hídrica afeta não só as torneiras da população, mas coloca em risco o
próprio negócio dos fazendeiros, que precisam de água abundante para irrigar
suas plantações. A opinião foi externada hoje (25) pelo diretor da Sociedade
Nacional de Agricultura (SNA), Alberto Figueiredo, em entrevista à Agência
Brasil.
“O
que acontece é que a escassez de água, neste momento, está recrudescendo. Está
acontecendo de fato e deixando milhares de pessoas na sede. O fato se tornou
grave e alarmante. O que nos preocupa é que não há qualquer trabalho feito
pelas autoridades no sentido de manter as fontes de água, as nascentes, as
florestas nas encostas, as reservas ciliares para garantir os cursos d'água.
Isso não acontece na intensidade que deveria, e pode fazer com que crescentes
contingentes de pessoas fiquem sem água”, alertou Figueiredo.
A
escassez de água e a diminuição dos cursos d'água acabam por inibir novos
projetos de irrigação e afetam as iniciativas existentes no campo, segundo o
diretor da SNA. “A gente sabe que as produções, tanto agrícolas quanto
pecuárias, sem irrigação, tornam o processo extremamente difícil em termos de
produtividade”, salientou.
Para
ele, os governos deveriam incentivar, monetariamente, os fazendeiros a
replantarem as áreas de preservação permanente, principalmente as encostas. As
matas nesse tipo de terreno têm a função de reter e fazer infiltrar as chuvas,
evitando que grande volume de terra acabe assoreando os córregos e rios.
Segundo
Figueiredo, “o novo Código Florestal diminuiu as exigências de reflorestamento
em áreas declivosas, o que é grave, pois são terrenos que não dão produtividade
nem para a pecuária nem para a agricultura, e se prestam efetivamente para as
florestas. O que precisamos é fazer funcionar um dos artigos do Código
Florestal que permite remunerar os produtores que fizerem conservação de
recursos hídricos, pela manutenção das matas ciliares, ao redor das nascentes e
também nas encostas”.
Figueiredo
acredita que as novas gerações de agropecuaristas têm nova visão ecológica do
processo produtivo. “A geração atual está consciente disso. O que precisa é o
governo fazer cumprir a legislação que existe. Hoje não há, por exemplo,
profissionais distribuídos pelo interior para orientar os produtores em relação
ao preenchimento do cadastro ambiental rural”, ressaltou.
O
dirigente da SNA também prega o aumento da produtividade na criação de gado,
colocando mais animais em espaço menor e abrindo área para o reflorestamento.
Pelas suas contas, “hoje temos 1,2 cabeça de boi por hectare, em média, no
Brasil. Já estamos conseguindo, em algumas propriedades, 15 cabeças por
hectares. Podemos multiplicar por dez, no mínimo, a produtividade, ou diminuir
em 90% a área ocupada, mantendo a mesma produção. Esta área que vai ser
liberada, a partir da racionalização do uso do solo, vai permitir que se
recomponham as matas”.