Economia
País
deve dar prioridade a reformas estruturais para evitar recessão.
Wellton
Máximo – Repórter da Agência Brasil Edição: Lílian Beraldo.
Para
conter a inflação, o próximo governante precisará adotar medidas recessivas e
reformas estruturais Marcello Casal /Arquivo Agência Brasil
Para
segurar o aumento de preços, o próximo governante precisará adotar medidas
recessivas, acreditam especialistas ouvidos pela Agência Brasil. De acordo com
eles, a redução do controle sobre preços administrados (como tarifas públicas e
combustíveis nas refinarias) terá impacto temporário na inflação em 2015. Dessa
forma, o Banco Central deve manter os juros altos, e o governo vai ter de
cortar gastos públicos, o que pode impedir a retomada do crescimento da
economia no próximo ano.
“O
próximo presidente terá de adotar medidas fortes em 2015, para que a economia
volte aos trilhos. Algumas serão impopulares, mas todas são necessárias para
recuperar a credibilidade dos investidores na economia brasileira, o que vai
destravar o crescimento mais tarde”, diz a professora de economia Virene
Matesco, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Além
disso, serão necessárias reformas estruturais, acreditam os economistas ouvidos
pela reportagem. “Para as expectativas melhorarem de forma definitiva e o crescimento
ser sustentável, o ideal seriam reformas estruturais, como a redução da carga
tributária e a melhoria da infraestrutura”, destaca Virene.
O
coordenador do curso de economia do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais
(Ibmec), Márcio Salvato, considera inevitável a tomada de medidas recessivas no
próximo ano. “Não espero que a taxa de crescimento se recupere em 2015. As
medidas são como um remédio amargo, com efeitos colaterais em um primeiro
momento, mas que curam o doente depois”, alega.
O
aumento de tarifas em 2015 é praticamente dado como certo pelos economistas
porque muitos preços de empresas que prestam serviços públicos ficaram
represados nos últimos anos. Além disso, a Petrobras será cada vez mais
pressionada a aumentar o preço da gasolina e do diesel por causa do
endividamento com a exploração da área pré-sal.
“Esse
realinhamento de preços poderá ser mais gradual ou mais intenso. Dependerá do
interesse do próximo governo em resolver o problema porque quando se segura um
preço, todo o sistema de preços fica distorcido”, acredita Virene. “Haverá
repique na inflação, mas será momentâneo. Não é uma situação que vai se
perpetuar.”
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Presidência para área econômica
Para
impedir que a alta das tarifas contamine os demais preços da economia, declaram
os especialistas, o próximo governo terá de agir tanto na política monetária
quanto na fiscal. Primeiramente, o Banco Central terá de manter os juros altos
e tomar medidas de regulação que restrinjam o acesso ao crédito, como o aumento
do compulsório, parcela que os bancos não podem emprestar.
“Não
creio que o Banco Central reduza os juros em 2015. Os juros vão ser mantidos
elevados no primeiro semestre. Se o governo arrumar a casa, pode ser que venha
uma queda no segundo semestre, mas nada que impulsione o crescimento”, acredita
Salvato.
Para
Virene, aumentos de juros poderão ser evitados se a autoridade monetária
reverter parte das medidas regulatórias de expansão do crédito tomadas nos
últimos anos. “Não adianta aumentar juros de um lado e liberar crédito do outro
porque isso anula a eficácia da política monetária. Se o Banco Central tomar
medidas macroprudenciais no sentido certo, pode evitar que os juros aumentem
para conter a inflação”, explica.
Outra
forma de impedir aumento de juros para conter a inflação, destacam os
especialistas, é o ajuste fiscal, com o fortalecimento do superávit primário –
economia para o pagamento dos juros da dívida pública. Para os especialistas, o
corte de gastos públicos será inevitável por causa da necessidade de o próximo
governo recuperar a credibilidade nas contas públicas.
“A
política fiscal também terá de ser mais restritiva, com contenção dos gastos
públicos para segurar o déficit público e aliviar a alta ainda maior dos juros.
Quando a política monetária está associada à fiscal, a inflação cai. Basta o
governo conter gastos que não geram eficácia para a economia”, diz Virene.
Além
do corte de gastos, o ajuste fiscal pode ser feito por meio do aumento de
impostos, caso o próximo governo acabe com desonerações concedidas nos últimos
anos. “O ideal seria o próximo presidente reduzir o número de ministérios e
cortar despesas de custeio [manutenção da máquina pública], mas o ajuste fiscal
também pode vir do outro lado, pela alta de impostos”, declara.
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a série Desafios do Brasil
Tanto
o ajuste fiscal quanto a contenção do crédito, ressaltam os especialistas, são
políticas recessivas, que devem manter o baixo crescimento do Produto Interno
Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas no país) em 2015. Para Salvato, o
próximo governante terá de pensar em ajustes estruturais para que o país possa
crescer sem se preocupar com a inflação.
“Hoje,
o modelo econômico é baseado na demanda, com estímulos ao consumo que não têm
dado mais certo, mas o problema mais relevante do Brasil hoje é o
desaquecimento da oferta. Os empresários precisam de garantias para que os
investimentos tenham retorno futuro, como redução dos gargalos da
infraestrutura e redução da carga tributária. Existe um programa de concessões
de infraestrutura, mas os efeitos são demorados”, diz o professor do Ibmec.