Comissão
de Anistia recebe relatório com nomes de juízes perseguidos na ditadura.
Elaine
Patricia Cruz - Repórter da Agência Brasil Edição: Aécio Amado
A
Comissão da Anistia entregou hoje (5) à Comissão Estadual da Verdade de São
Paulo um relatório que retrata o perfil de 180 trabalhadores urbanos que
enfrentaram a ditadura militar ou foram perseguidos politicamente até 1988.
Eles entraram com requerimento na Comissão da Anistia, tiveram seus casos
julgados e foram anistiados.
Esses
casos fazem parte do acervo da Comissão da Anistia. Segundo Rodrigo Lentz,
pesquisador e membro da comissão e coordenador do relatório, a Comissão da
Anistia já recebeu 74 mil requerimentos com solicitações de anistia política.
Desse total, 7.518 são processos de São Paulo, dos quais 1.345 já foram
julgados e deferidos. “Desse montante, pegamos 180 processos que já tinham sido
deferidos e arquivados. O recorte foi a busca dos trabalhadores urbanos
anistiados do estado de São Paulo”, explicou Lentz.
O
relatório analisou informações como idade, gênero, atividades e militância
política dos anistiados e também fez um mapeamento dos tipos de atos de exceção
cometidos, relatando o ano de ocorrência, os locais onde ocorreram, os autores
e as instituições envolvidas. No caso dos atos de exceção, disse Lentz, a
comissão identificou 27 tipos. O mais comum, a demissão, correspondia a quase
metade dos casos.
Entre
os 180 trabalhadores analisados pelo relatório, 93% são homens e 47% integrados
por sindicalistas. Um dos casos analisados é o da anistiada Lenice Bezerra da
Silva Azevedo, de Alagoas, que trabalhava como ajudante de serviços gerais na
empresa Polimatic Eletrometalúrgica. Ela foi demitida após liderar uma greve e
colocada em uma “lista suja” das indústrias do Grande ABC. “Ela foi bastante
monitorada pela polícia até 1989. Isso aparece no relatório do Serviço Nacional
de Informações (SNI). Ela era sindicalista. Uma coisa que chama a atenção é
que, das 12 mulheres na lista, sete eram sindicalistas”, disse Lentz.
Para
o pesquisador, o relatório ajuda a entender “quem eram esses trabalhadores que
eram alvo de atos de exceção” e que foram “alvo de grande repressão da
ditadura”. O presidente da Comissão Estadual da Verdade, deputado Adriano
Diogo, considerou o relatório “muito importante” e disse que ele pode integrar
o relatório final da comissão.
Membro
da Comissão Estadual da Verdade de São Paulo, Ivan Seixas também considerou o
material importante para a continuação dos trabalhos da comissão paulista. “A
Comissão da Anistia tem o perfil dos atingidos de todo o país. Pedimos para
eles selecionarem os nomes dos atingidos em São Paulo, trabalhadores em todas
as categorias, militares, camponeses e outros. Com esse perfil teremos
condições de detectar que tipo de agressões sofreram e o local [em que
ocorreram]”, disse.
“Esse
relatório tem uma importância fundamental que é de poder entregar informações
que são consistentes e confiáveis em uma base de dados que está dentro da
Comissão da Anistia e que identifica o conjunto de violações produzidas pela
ditadura militar. Isso demonstra claramente como foi possível criar uma grande
rede dentro do Estado brasileiro para prejudicar aqueles que eram considerados
lesivos à segurança nacional”, disse Paulo Abrão, presidente da Comissão da
Anistia.
Segundo
Abrão, outros relatórios preparados pela Comissão da Anistia já foram entregues
às comissões da Verdade do Paraná e do Rio de Janeiro.