Anistia
Internacional vai denunciar à ONU mortes de jovens na Bahia.
Vladimir
Platonow - Repórter da Agência Brasil Edição: Aécio Amado.
Mães
e pais denunciam à Anistia Internacional uma série de crimes de assassinato,
sequestro e desaparecimento de jovens negros em Salvador e outras cidades no
estado da Bahia (Fernando Frazão/Agência Brasil)Fernando Frazão/Agência Brasil.
A
Anistia Internacional vai denunciar à Organização das Nações Unidas (ONU) a
morte e o sumiço de jovens na Bahia. A entidade foi procurada nessa
quinta-feira (4) por um grupo de pais que tiveram os filhos mortos ou
sequestrados, com relatos de participação policial e de imobilismo nos
inquéritos que, em muitos casos, permanecem inconclusivos.
O
assessor de Direitos Humanos da Anistia Internacional, Alexandre Ciconello,
ouviu o relato de cinco mães e um pai desses jovens, que ainda aguardam uma
resposta mais clara do Estado.
“Nós
continuamos a ver jovens negros sendo assassinados, sequestrados ou
desaparecidos, sem nenhum tipo de justiça para esses parentes. Há o caso do
Davi Fiuza, que desapareceu há 40 dias, depois de uma abordagem da polícia, na
qual há testemunhas de que ele foi sequestrado e colocado amarrado em um carro.
Outras mães aqui tiveram os filhos assassinados ou desaparecidos, sem nenhum
tipo de resposta efetiva do Estado”, disse Ciconello.
Rute
Silva, mãe de Davi Fiuza, relatou que o filho foi sequestrado quando estava
observando uma operação da polícia, no dia 24 de outubro deste ano. “Às 7h30
houve uma operação policial no bairro de Vila Verde e meu filho, como todo
menino curioso, ficou olhando. De repente, ele foi encapuzado, teve amarrado os
pés e as mãos e acabou jogado em um carro descaracterizado. Havia muitas
viaturas da polícia por perto, segundo as testemunhas. Desde então, procurei
todos os meios legais e jurídicos, fui ao Instituto Médico-Legal, nos campos de
desova [de cadáveres], mas nada”, contou.
De
acordo com o integrante da AI, o caso de Davi será levado à ONU e outros casos
de desaparecidos possivelmente à Organização dos Estados Americanos (OEA). “No
caso do Davi, há um grupo de trabalho das Nações Unidas sobre desaparecidos que
já nos procurou para apresentar esse caso formalmente ao comitê. A gente está
falando com a mãe do Davi e vamos levar esse caso para o grupo de trabalho da
ONU. Em alguns casos, quando não há uma solução, também podemos apresentar à
Comissão Interamericana de Direitos Humanos [da OEA], e a ideia é esta.”
Ciconello
disse que há uma dificuldade institucional do governo da Bahia em dar uma
resposta sobre o assunto. “Não são casos isolados, há uma dificuldade da
corporação, da Secretaria de Segurança Pública, em agir nesses casos,
principalmente quando há envolvimento de policiais. Temos muitos relatos de
grupos de extermínio. Os mecanismos de controle da atividade policial na Bahia
são muito frágeis. A corregedoria acabou de arquivar o caso do Davi, com
testemunhas dizendo que ele foi abordado pela Polícia Militar. É preciso haver
mudanças estruturais nas duas polícias.”
Ele
informou que a Anistia Internacional acaba de iniciar uma campanha mundial sobre
o caso de Davi. “O que a gente busca fazer, como no caso do Amarildo, é o
constrangimento dos governos, de mobilizar as pessoas para se manifestarem e
pressionarem a fim de que se façam as investigações. Acabamos de lançar a Ação
Urgente, que é um instrumento com o qual a Anistia mobiliza os ativistas em
vários países para atuar nas embaixadas, enviar cartas e mensagens ao governo
baiano, para que haja investigação. Oficialmente, dizem que vão apurar, mas não
há medidas efetivas de responsabilização e de parar com esse modus operandi da
polícia. Também há uma culpabilização das vítimas e de suas famílias.”
Procurada
para se pronunciar sobre os casos, especialmente o de Davi Fiuza, a Secretaria
de Segurança Pública da Bahia informou, em nota, que todas as medidas cabíveis
estão sendo tomadas. Destacou que várias vertentes são investigadas, inclusive
a participação de policiais. Segundo o órgão, os policiais que estavam de
plantão no dia do desaparecimento de Davi estão sendo ouvidos no inquérito. A
secretaria informou que, no período de 2013 a 2014, 104 policiais foram
demitidos, graças ao trabalho das corregedorias.