Reconstruir a indústria naval foi uma decisão estratégica
do governo, afirma presidenta.
A construção de navios como o André Rebouças, que fez
nesta quinta-feira (14) sua primeira viagem, resulta de uma decisão estratégica
do governo, tomada desde o início dos anos 2000, de reconstruir a indústria
naval do Brasil, afirmou a presidenta Dilma Rousseff, durante a cerimônia
inaugural da embarcação e do batismo do petroleiro Marcílio Dias, no Complexo
Portuário de Suape, em Ipojuca, região metropolitana do Recife (PE).
Presidenta Dilma posa em frente ao petroleiro André
Rebouças. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR.
"Nós não
chegamos aqui porque, há um ano ou dois atrás, começamos a fazer o navio André
Rebouças (…).
Chegamos aqui porque rompemos com uma realidade terrível.
O Brasil tinha sido, nos anos 80, o segundo maior produtor na área de indústria
naval. E esse processo foi desmantelado. Foi tão desmantelado que os estaleiros
que existiam, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou ao governo,
produziam [apenas] pequenas embarcações. E alguns dos quais eu visitei – porque
era então ministra de Minas e Energia -, tinham grama no chão. A grama crescia
porque nenhum trabalhador, nenhum funcionário, ninguém passava pelos canteiros,
pelas áreas dos estaleiros".
A embarcação André Rebouças é a nona a entrar em operação
das 49 encomendadas a estaleiros nacionais pelo Programa de Modernização e
Expansão da Frota (Promef). Na mesma cerimônia, realizada no Estaleiro
Atlântico Sul (EAS), em Ipojuca (PE), também será batizado o petroleiro
Marcílio Dias.
Como resultado dessas iniciativas, o número de
trabalhadores do setor, que em 2002 não chegava a sete mil, hoje, de acordo com
dados do governo, somam cerca de 72 mil pessoas, com carteira assinada,
capacitadas e bem remuneradas, responsáveis pela quarta maior carteira de
encomendas de navios do mundo.
Descentralização e conteúdo nacional
Segundo a presidenta Dilma Rousseff, a decisão de
recuperar a indústria naval brasileira levou a duas importantes consequências.
A primeira, foi a decisão de espalhar os estaleiros pelas diversas regiões do
território nacional, além do Sudeste, onde tradicionalmente já existia, para o
Norte, Sul e o Nordeste.
A outra opção política foi a de valorizar e priorizar a
indústria brasileira, ao exigir um percentual de tecnologia nacional na
construção dos grandes petroleiros usados pela Petrobras. Essa decisão,
juntamente com o incremento da produção do pré-sal, foi responsável pelo
restauração da indústria naval no País.
A indústria naval
renovada, "fez com que incorporássemos tecnologia, melhorássemos a
formação dos nossos trabalhadores e gerássemos emprego e renda. O que nós
queremos é produzir no Brasil o que pode ser produzido no Brasil",
acrescentou Dilma. Apenas o petroleiro
André Rebouças, por exemplo, tem 72% de conteúdo nacional, gerou mais de 2 mil
empregos. O Marcílio Dias, batizado nesta quinta-feira, tem 67% de conteúdo
nacional e criou 1,7 mil novos postos de trabalho.
Dilma recordou ainda que essas conquistas desmentiram o
pessimismo de algumas pessoas, que diziam que o que o Brasil não tinha
competência "para fazer, sequer, um casco de navio, deplataforma ou de
qualquer um dos produtos da indústria de petróleo e gás".
Maldição do petróleo
Com essas políticas, reforçou a presidenta, o Brasil está
trabalhando para evitar a chamada "a maldição do petróleo" ou a
"doença holandesa". O fenômeno ocorre em alguns países onde a
abundância dessa commodity leva ao fim de outras indústrias e a população é
obrigada a utilizar apenas produtos importados.
"É o fato de que a riqueza gerada pode resultar no
empobrecimento do resto do País e no enriquecimento só de um setor. Para não
ter maldição do petróleo, temos de ter uma cadeia de petróleo e gás, fornecendo
produtos com trabalhadores brasileiros treinados aqui, capazes, ganhando
salários adequados e tendo uma renda adequada", destacou a presidenta.
E concluiu: porque
não queremos a maldição do petróleo para o Brasil, "vocês podem ter
certeza, a política de conteúdo local veio para ficar".