PF faz alerta a quem ajudar prefeita de Bom Jardim (MA) a se esconder
Cúmplices serão tratados como integrantes de organização criminosa.
PF segue sem pistas da prefeita investigada por desvios na educação.
Sem pistas do paradeiro da prefeita de Bom Jardim (MA), Lidiane Leite (PP), de 25 anos – suspeita de desviar dinheiro da educação no município e foragida há quatro dias –, a Polícia Federal (PF) lançou um alerta neste fim de semana: quem estiver ajudando a prefeita a se esconder vai ser tratado como integrante de organização criminosa.
“Pelo tempo que ela está desaparecida, é muito provável que ela esteja recebendo o auxílio de outras pessoas. Isso pode fazer com que essas pessoas sejam incluídas na organização criminosa que se investiga", diz o superintendente da PF no Maranhão, Alexandre Saraiva.
A expectativa da PF é conseguir prender Lidiane ainda nesta semana. "A população tem ajudado com outras informações, nós estamos montando esse quebra-cabeça”, afirma Saraiva.
Lidiane está foragida desde que foi iniciada a Operação Éden, da PF, que apura fraudes em licitações, desvio de dinheiro da merenda escolar e transferências bancárias irregulares na cidade que tem 39.049 habitantes e fica a 275 km da capital maranhense, São Luís.
A investigação em Bom Jardim começou após denúncia do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) do Ministério Público do Maranhão (MP-MA) e doMinistério Público Federal (MPF).
Para capturar a prefeita, a vigilância foi reforçada em rodoviárias, aeroportos e rodovias do estado, além de fazendas de amigos dela, que poderiam servir de refúgio. A repercussão nacional do caso acelerou a operação.
Na última quinta-feira (20), foram presos o ex-secretário de Agricultura, Antônio Gomes da Silva, conhecido como "Antônio Cesarino", e de Assuntos Políticos, Humberto Dantas dos Santos, conhecido como Beto Rocha, ex-namorado da prefeita.
Ela já havia sido afastada três vezes do cargo: na primeira vez, em abril de 2014, pelo prazo de 30 dias após denúncias de improbidade administrativa, retornando ao posto em 72 horas, depois de obter liminar na Justiça; na segunda, pelo período de 180 dias, em dezembro de 2014, com liminar suspensa pelo Tribunal de Justiça doMaranhão (TJ-MA) em 48 horas; e na terceira vez, em maio de 2015, retornando em 72 horas.
Com o sumiço da prefeita, o município vive um impasse: os vereadores estão impedidos de votar o afastamento dela por causa de uma medida cautelar obtida por Lidiane na Justiça.
Na prefeitura, o expediente é de 8h às 12h, mas poucas pessoas foram encontradas no prédio nesta sexta-feira (21). Somente o secretário de Administração e Finanças, Dal Adler Castro, poderia responder pelo órgão, mas não quis falar com a imprensa.
Desvios
A polícia investiga transferências de cerca de R$ 1 mil realizadas da conta da prefeitura para a conta pessoal de Lidiane que chegam a R$ 40 mil em um ano. Também foram feitas transferências para o advogado da prefeitura, Danilo Mohana, que somam mais de R$ 200 mil em pouco mais de um ano.
Além da prefeita, secretários, ex-secretários e empresários também estão sendo investigados por causa de irregularidades encontradas em contratos firmados com "empresas-fantasmas". Houve duas licitações para reformar 13 escolas, pelas quais a Zabar Produções obteve R$ 1,3 milhão e a Ecolimp recebeu R$ 1,8 milhão. Nenhuma das empresas foi encontrada.
Em 2013, a prefeitura firmou contrato com 16 agricultores para o fornecimento de merenda escolar nas escolas municipais, pelos quais cada agricultor receberia em média R$ 18 mil por ano. Os produtores afirmaram que não receberam os pagamentos.
Luxo na internet
Lidiane disputou a prefeitura aos 22 anos, em 2012, depois que o namorado dela na época,Beto Rocha, teve a candidatura impugnada ao ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa. Ela assumiu o lugar dele e foi eleita.
Depois que se tornou prefeita, Lidiane passou a compartilhar fotos da nova rotina nas redes sociais. Nos perfis pessoais, ela escreveu: "Eu compro é que eu quiser. Gasto sim com o que eu quero. Tô nem aí pra o que achem. Beijinho no ombro pros recalcados". Em outro post, ela diz: "Devia era comprar um carro mais luxuoso pq graças a Deus o dinheiro ta sobrando (sic)".
Afastamentos
A Justiça do Maranhão havia determinado o afastamento da prefeita por 180 dias em dezembro de 2014, com base no descumprimento da regularização das aulas e do fornecimento de merenda e de transporte escolar em Bom Jardim.
Na ação, o Ministério Público do Estado afirma que Lidiane havia apresentado informações falsas a respeito das irregularidades – elas acabaram desmentidas por meio de denúncias dos próprios moradores da cidade.
A gestora também já havia sido citada pela Justiça por má conduta no início de 2014, quando foi deferida liminar, a pedido do MP-MA, para declarar a ilegalidade de decreto municipal que tornou nulas as nomeações dos excedentes do concurso público homologado em novembro de 2011.