No Congresso americano, papa defende fim da hostilidade
contra imigrantes
Leandra Felipe – Correspondente da Agência Brasil/EBC
Papa Francisco discursa no Congresso dos Estados Unidos
(Agência Lusa/Direitos Reservados)
Ao discursar no Congresso dos Estados Unidos, o papa
Francisco também defendeu o combate ao fundamentalismo religioso Agência
Lusa/EPA/Tony Gentile/Direitos Reservados
No primeiro discurso de um papa no Congresso dos Estados
Unidos hoje (24), o papa Francisco pediu aos parlamentares que trabalhem para
combater a hostilidade contra os imigrantes; que tenham comprometimento com
políticas para conter os efeitos das mudanças climáticas; sugeriu uma ação de
combate a todo tipo de fundamentalismo e o fim da pena de morte no país.
Discursando em inglês, o papa foi bastante aplaudido em
diversos momentos. No discurso, chamou a atenção para temas que dependem do
Congresso, e que por falta de consenso entre democratas e republicanos, não tem
tido avanços. No campo da imigração, por exemplo, está nas mãos dos
parlamentares revisar a política migratória, e votar o plano que a gestão de
Barack Obama enviou ao Congresso.
A situação dos imigrantes indocumentados - aproximadamente
11 milhões de pessoas - tem se arrastado ao longo dos últimos governos. Obama
foi reeleito com a promessa de rever as regras de imigração, mas encontra
resistência no Congresso e, pela falta de uma resposta, o tema já está
novamente no debate da pré-campanha eleitoral nos Estados Unidos.
Neste contexto, o Papa lembrou que todos os povos das
Américas não devem ter "temer os imigrantes" porque a maioria da
população foi formada por imigrantes. "Digo isso, como filho de
imigrantes, sabendo que muitos de vocês também são descendentes de
imigrantes", afirmou.
Ele falou que a crise de refugiados que atinge a Europa é
algo sem precedentes, desde a Segunda Guerra Mundial, e que o continente
americano tem o desafio de adotar uma resposta para o tema.
Contra fundamentalismo
Perante a plateia, composta não só de parlamentares, mas de
autoridades da Suprema Corte dos Estados Unidos, o papa Francisco defendeu a
necessidade de que o fundamentalismo religioso seja combatido.
"Nenhuma religião é imune às diversas formas de
aberração individual ou extremismo religioso”, destacou. E frisou:
"Combater a violência praticada em nome de uma religião, uma ideologia, ou
um sistema econômico, significa proteger a liberdade das religiões, das ideias
e das pessoas".
Ao tocar no ponto da igualdade racial, o papa citou Martin
Luther King e seu sonho igualitário de direitos iguais. Ainda lembrou a luta
pelos direitos civis, pela "liberdade na pluralidade, no lugar da
exclusão".
Ele destacou os 50 anos da marcha de Martin Luther King,
saindo de Selma, feita no âmbito da luta para que afro-americanos tivessem
direitos na América. “Esse sonho continua a nos inspirar, e estou feliz em
saber que a América continua a ser para muitos a terra dos sonhos”, disse o
papa Francisco.
Com estilo sutil, ele pediu "coragem e audácia"
para que os Estados Unidos lidem com os países com os quais têm diferenças
históricas. "Quando nações que estavam em desacordo retomam a via do
diálogo, novas oportunidades se abrem para todos", afirmou.
Ele se referiu a Cuba, país com o qual os Estados Unidos
retomaram as relações diplomáticas, mas que, para a normalidade, depende da
suspensão do embargo econômico - decisão que só pode ser revogada mediante uma lei
aprovada pelo Congresso.
Mudanças climáticas e pena de Morte
Como já esperado o papa Francisco chamou atenção dos
congressistas e demais autoridades para o tema das mudanças climáticas. Um tema
que divide os republicanos e democratas. Os mais conservadores não estão
favoráveis à aprovação de planos que afetem a economia do país, e têm
dificultado a aprovação de programas que a gestão de Barack Obama tenta
implementar.
"Estou convencido de que podemos fazer a diferença, e
não tenho nenhuma dúvida de que os Estados Unidos e o Congresso devem ter um
papel importante”.
O papa também foi incisivo com relação à pena de morte nos
Estados Unidos, e pediu a abolição da pena. Toda vida é sagrada", disse.
“Em todos os estágios de seu desenvolvimento", completou, em nova
referência contra o aborto.