'Não' a Evo sai na frente em apuração de referendo, e
oposição comemora
O presidente Evo Morales vota em Cochabamba
CÉDULAS PREENCHIDAS
A opção pelo "não" à possibilidade de Evo Morales
concorrer a um quarto mandato consecutivo na Bolívia começou na frente no
referendo realizado no país neste domingo (21).
Até as 15h de segunda (22) de Brasília, 42% dos votos haviam
sido apurados. Nesta amostra, o "não" vencia com 59% ante 41% do
"sim", de acordo com o Tribunal Supremo Eleitoral.
O tribunal, porém, não divulga a quais regiões bolivianas
pertencem os votos já contabilizados. Evo possui sua base de apoio no altiplano
boliviano —onde está a capital, La Paz—, e a oposição é mais forte na região de
Santa Cruz de la Sierra, no centro do país. Como não se sabe por onde a
apuração começou, a possibilidade de fazer prognósticos diminui.
Apesar disso, duas pesquisas de boca de urna indicam vitória
do "não". Se isso se confirmar, será a primeira derrota de Evo nas
urnas desde que ele chegou ao poder, em 2006.
Segundo o instituto Ipsos, 52,3% dos bolivianos votaram
"não" à mudança na Constituição que passaria a dar o direito a duas
reeleições presidenciais, contra 47,7% do "sim". No levantamento do
instituto Mori, o "não" teve uma vitória mais apertada, de 51% a 49%.
As margens de erro não foram divulgadas.
O líder opositor Samuel Doria Medina, ex-candidato à
Presidência derrotado por Evo, comemorou pelo Twitter: "Queriam que o povo
decidisse, o povo já decidiu. Ganhou a Bolívia". Já o ministro de
Autonomias, Hugo Siles, afirmou que os resultados eram preliminares e que se
devia esperar pela contagem final.
O referendo constitucional foi convocado para decidir se
deveria ser modificado o artigo 168 da Carta, que determina que os presidentes
do país só podem concorrer a uma reeleição.
O TSE estimava que cerca de 80% dos mais de 6,5 milhões de
eleitores aptos a votar compareceriam à eleição.
A presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Katia
Uriona, afirmou que "a votação transcorreu com absoluta normalidade, sem
maiores dificuldades, excetuando-se casos isolados, resolvidos pelos tribunais
regionais". Ela se referia a dois casos.
Em um deles, pela manhã, ao chegarem para votar na escola
Carmen Ortiz, em Santa Cruz de la Sierra, eleitores encontraram as cédulas de
votação, mas não havia atas para o registro dos votos.
Irritados, queimaram as urnas vazias e várias cédulas.
No colégio 24 de Setembro, também em Santa Cruz de la
Sierra, um dos fiscais do partido Democratas disse que mesmo antes de a votação
ser iniciada foram achadas cédulas nas quais o "Sim" já estava
assinalado.
A responsável pela zona eleitoral precisou sair escoltada
pela polícia devido às ameaças dos eleitores.
Devido aos incidentes, o TSE informou que adiou para o dia 6
de março o referendo nestas duas seções, que somam 35 mesas –0,1% do total de
29.224 mesas.
As urnas, que foram abertas às 8h no horário local (9h em
Brasília), começaram a ser fechadas às 16h. Mas algumas permaneceram abertas
até as 19h.
O vice-presidente do tribunal eleitoral, Antonio Costas,
disse que espera ter 90% da apuração concluída em um prazo máximo de 48 horas.
EX-NAMORADA
Gabriela Zapata Montaño, ex-namorada de Evo Morales,
envolvida em um caso de tráfico de influência, estava convocada para ser
mesária em um colégio na zona sul da capital, La Paz, mas não se apresentou na
seção.
O presidente Morales é acusado de ter favorecido a
ex-namorada, colocando-a num cargo de chefia no escritório boliviano de uma
empresa chinesa que, nos últimos anos, ganhou licitações para obras do governo
que superam US$ 500 milhões.
Morales admitiu ter tido uma relação com Zapata quando ela
tinha 18 anos (hoje tem 29).
Por causa da ausência, a ex-namorada será multada em 492
bolivianos (R$ 287), 30% do salário mínimo.
O REFERENDO NA BOLÍVIA
A pergunta do referendo
Você está de acordo com a reforma do artigo 168 para que o
presidente e o vice-presidente possam ser reeleitos por duas vezes de maneira
contínua?
O que diz o artigo 168 da Constituição
O mandato do presidente e do vicepresidente é de cinco anos,
e eles só podem ser reeleitos uma vez de maneira contínua
O GOVERNO MORALES
2006 - 22.jan - assume primeiro governo
2008 - 10.ago - com 67%, vence referendo que o ratifica na
Presidência
2009 - 25.jan - referendo aprova nova Constituição, que
prevê eleição presidencial em dezembro; 6.dez - Morales vence a eleição com
64,2%
2010 - 22.jan - assume a Presidência, mas o novo mandato não
é considerado reeleição, por causa da reforma constitucional de 2009
2014 - 12.out - É reeleito com 61% dos votos
2015 - 22.jan - toma posse para o terceiro mandato
Folha de São Paulo