STF mantém decisão de Teori que tirou de Sérgio Moro
investigações sobre Lula
Michèlle Canes – Repórter da Agência Brasil
Brasília -O relator, Teori Zavascki participa de sessão
plenária para avaliar a investigação da Operação Lava-Jato sobre o
ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Por oito votos a dois, o Supremo Tribunal Federal (STF)
decidiu na tarde desta quinta-feira (31) que as investigações da Operação Lava
Jato sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva devem permanecer na Corte.
A maioria dos ministros decidiu manter a decisão anterior do
ministro relator, Teori Zavascki. Com a
posição do plenário, a parte da investigação que envolve Lula permanecerá no
STF e não com o juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da
operação na primeira instância.
No voto, o ministro Zavascki afirmou que, apesar da questão
da legitimidade das interceptações das conversas do ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva não fazer parte do julgamento desta tarde, algumas das provas
podem perder validade. O ministro citou o fato de uma das conversas ter sido
gravada depois do pedido para que as interceptações fossem suspensas.
Pedido relevante
“Cumpre enfatizar que não se adianta aqui qualquer juízo
sobre a legitimidade ou não da interceptação telefônica em si mesma, tema que
não está em causa, embora aparentemente uma das mais importante conversas
tornadas públicas foi gravada depois de ter sido suspensa a ordem de
interceptação. De modo que será muito difícil convalidar a validade desta
prova. Mas isso, de qualquer forma, não está em questão”, acrescentou Teori.
O relator disse ainda que havia relevância no pedido da
Presidência da República para que sejam suspensos os efeitos da decisão que
tornou pública as conversas interceptadas.
“São relevantes os fundamentos que afirmam a ilegitimidade
dessa decisão. Em primeiro lugar, porque emitida por juízo que, no momento de
sua prolação, era reconhecidamente incompetente para a causa diante da
constatação, já confirmada, do envolvimento de autoridades com prerrogativa de
foro, inclusive a própria presidente da República. Em segundo lugar, porque a
divulgação pública das conversações telefônicas interceptadas, nas
circunstancias em que ocorreu, comprometeu o
direito fundamental da garantia de sigilo que tem acento constitucional”,
destacou o ministro.
Danos
Teori Zavascki informou também que os efeitos da divulgação das conversas são
irreversíveis e que, ao suspender a divulgação, serão evitados novos danos.
“A esta altura há de se reconhecer que são irreversíveis os
efeitos práticos decorrentes da indevida divulgação das conversações
telefônicas interceptadas, mas ainda assim cabe deferir o pedido no sentido de
sustar imediatamente os efeitos futuros que ainda possam dela decorrer e, com
isso, evitar ou minimizar os potencialmente nefastos efeitos jurídicos da divulgação, seja no que diz respeito ao
comprometimento da validade da prova colhida, seja até mesmo contra eventuais
consequências no plano da
responsabilidade civil, disciplinar ou criminal”, concluiu o relator.
Votos
Acompanharam integralmente o voto do relator os ministros
Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Rosa Weber, Ricardo Lewandowski, Celso de
Mello, Dias Toffoli e Cármen Lúcia.
Os ministros Luiz Fux e Marco Aurélio divergiram dos demais
votos. Eles entenderem que devem tramitar no STF somente fatos relacionados com
investigados com foro privilegiado. Na avaliação de Fux, a conversa entre Lula
e Dilma não há qualquer ilícito, embora o juiz Sérgio Moro deveria ter feito
uma análise prévia da prova.
"Fico a imaginar se o juiz de primeiro grau não tem o
mínimo de possibilidade de aferição da seriedade dos fatos que se passam sob
seu crivo antes de remeter os áudios ao STF", acrescentou Fux.
AGU
Antes dos votos dos ministros, o advogado-geral da União
(AGU), José Eduardo Cardozo, fez sustentação oral. O ministro chegou a elogiar
a atuação do juiz federal Sérgio Moro na condução da Operação Lava Jato, mas
disse que a decisão do juiz de divulgar os áudios entre o ex-presidente Lula e
a presidenta Dilma Rousseff ofendeu a Constituição e a legalidade vigente.