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segunda-feira, março 07, 2016

Estudo aponta que zika causa dano ao feto em qualquer fase da gravidez

DE SÃO PAULO

O vírus da zika pode causar danos ao feto em qualquer período da gestação, aponta um estudo realizado com gestantes do Rio de Janeiro e publicado no último sábado (5) na revista científica "The New England Journal of Medicine".

Até então, a hipótese era de que o risco fosse concentrado no primeiro trimestre, quando há mais chances de o vírus ultrapassar a barreira placentária e atingir o feto. O vírus da zika é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti.

Feito por pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e da Universidade da Califórnia, o trabalho mostrou que, na amostra estudada, de cada dez mulheres infectadas por zika, três tiveram bebês com defeitos congênitos. Entre os problemas, morte do feto, restrição de crescimento, danos na placenta e lesões no sistema nervoso central.

O estudo selecionou 88 gestantes que apresentaram sintomas de zika -como manchas avermelhadas.

Dessas, 72 tiveram a doença confirmada por exame molecular no sangue e/ou na urina. Duas abortaram no início da gravidez. Das 70 restantes, 42 foram acompanhadas com ultrassonografia na gestação (as outras não aceitaram essa etapa). Elas tiveram infecção pelo vírus da zika entre a sexta e a 25ª semana de gestação.

Nesse grupo, 29% dos fetos apresentaram problemas como restrição de crescimento intrauterino, alterações no sistema nervoso central e morte ainda no útero.

Por exemplo, cinco dos 12 fetos tinham restrição de crescimento uterino (eram menores do que o tamanho esperado), quatro apresentavam calcificações cerebrais. Outras alterações do sistema nervoso central foram detectadas em dois bebês.

O estudo diz ainda que quatro bebês tinham fluxo arterial anormal no cérebro ou nas artérias umbilicais. Houve dois casos de redução ou ausência de líquido amniótico.

Dois casos de morte fetal foram registrados após a 30ª semana de gestação. Num deles, a mulher foi infectada pelo zika durante a 25ª semana de gravidez. Em outro, na 32ª semana da gestação.

"É um trabalho rigoroso e muito bem conduzido. Sugere fortemente que o zika pode comprometer o feto em qualquer período da gestação", diz o obstetra Thomaz Gollop, especialista em medicina fetal.

"Mesmo que possa ter havido viés na seleção dessas mulheres, é um número muito alto de alterações fetais. Nas infecções por rubéola ou toxoplasmose não costumamos ver alterações tão avassaladoras", diz o infectologista Esper Kallas, professor da USP.

Segundo Kallas, o trabalho serve de alerta para outras má-formações, além damicrocefalia, que ainda não estão sendo correlacionadas ao vírus.

"É um estudo ainda pequeno, mas é a primeira evidência de associação [entre o zika e os casos de microcefalia]. É original, de relevância", diz o médico Luis Correa, professor na UFBA (Universidade Federal da Bahia) e especialista em medicina baseada em evidência.

Segundo os autores, todas as mulheres estudadas eram saudáveis, com nenhum outro fator de risco ou complicações na gestação.

Eles afirmam que, no final da gravidez, as alterações nos fetos parecem ser em razão de problemas na placenta, como crescimento intrauterino retardado e alteração do volume do líquido amniótico que, se detectada a tempo, pode prevenir o sofrimento fetal.

Até o momento da publicação do artigo, seis bebês tinham nascido. Dois bebês tinham medidas normais e exames normais ao nascer. Um bebê tem microcefalia severa e atrofia cerebral global.

Dois bebês, com restrição de crescimento no útero, nasceram abaixo do tamanho normal, mas com cabeças proporcionais. Um dos bebês com problemas no líquido amniótico nasceu com medidas normais.

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