Impeachment domina discursos das Conferências de Direitos
Humanos
Carolina Gonçalves - Repórter da Agência Brasil
A presença exclusiva de integrantes do governo e de
representantes da sociedade civil contrários ao impeachment da presidente Dilma
Rousseff fez com que o processo contra a petista, em tramitação no Congresso
Nacional, ditasse o rumo dos discursos de abertura das Conferências Conjuntas
de Direitos Humanos, que ocorreu na noite de hoje (24), em Brasília. A ministra
Tereza Campello (Desenvolvimento Social e Combate à Fome), uma das últimas a
discursar, alertou que os quase 7 mil participantes do evento precisam ter um
olho no futuro e outro no risco do retrocesso em garantias conquistadas até
hoje.
“Imagino a perplexidade de muitos que participaram das
últimas conferências. Cada vez que a gente participa de uma conferência imagina
que vai chegar na próxima querendo mais. Chegar hoje, discutindo como não ter
retrocesso é um absurdo para o país. Não vamos aceitar, vamos discutir como
avançar. Temos obrigação de continuar sonhando e construindo uma agenda de
direitos”, disse. Quase todas as falas políticas foram seguidas por um coro da
plateia que palavras de ordem como “Não vai ter golpe” e “Fora Cunha”.
Tereza Campello destacou que o país tem muita desigualdade e
atraso, mas que, ainda assim, registra avanços em direitos. “Este tem que ser
nosso piso. Abaixo deste patamar não queremos, mas o retrocesso bate à nossa
porta. Este golpe é contra os pobres, a população LGBT, contra os idosos,
contra as cotas e contra os negros”, afirmou.
Ficou com a ministra Nilma Lino Gomes (Mulheres, da
Igualdade Racial e dos Direitos Humanos) o encerramento do evento. Em tom mais
ameno, ela pediu maturidade e capacidade de avaliação diante do atual contexto
político do país, mas lembrou que as conferências – de Direitos Humanos,
Direitos da Criança e do Adolescente, da Pessoa Idosa, da Pessoa com
Deficiência e de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT) -, tem
que ser vista como um marco histórico. “Nenhum direito a menos. Todos os
direitos conquistados até aqui afirmaram e reafirmam a dignidade do povo
brasileiro”, destacou.
Como presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minoria da
Câmara, o deputado Paulo Pimenta (PT-SP) deu o tom mais forte. O parlamentar
exaltou resultados do governo Lula e do atual governo. Citou como exemplos de
avanço a criação do ministério comandado por Tereza Campello. “Só existe porque
tivemos a coragem de eleger um operário retirante nordestino e, depois de 500
anos, eleger uma mulher presidente da República pela primeira vez”, disse.
Pimenta classificou o atual momento político como “o período
mais difícil da história após a ditadura” e alertou que a atual composição do
Congresso Nacional “é uma das mais conservadoras das últimas décadas. Isto vem
trazendo consequências sociais, econômicas e políticas”. O deputado elencou
projetos encampados pelas bancadas evangélicas e a ruralistas na lista de
“retrocessos”. O deputado citou o Estatuto da Família que, segundo ele,
restringiu o conceito às relações tradicionais, e a PEC 215, que retira do
Executivo a prerrogativa exclusiva sobre a demarcação de terras indígenas.
“Este momento histórico não permite omissão e vacilo. Neste
momento, o silêncio é cúmplice. A disputa é a luta dos direitos humanos, de um
lado, e do fascismo de outro”, afirmou.