Pedreiro que pedalou por 404 km para ganhar uma casa concretiza seu sonho
Foto: Cezar Alves
Final feliz para o pedreiro Francisco de Assis a Silva, de 62 anos, que pedalou 404 quilômetros numa bicicleta Poty, sem freios, para tirar a segunda via dos documentos, e, assim, receber uma casa nova no conjunto Jardim das Palmeiras, construído pela Caixa Econômica Federal em parceria com a Prefeitura de Mossoró para os moradores da Favela do Tranquilim.
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Francisco de Assis (conhecido também por Cerro Corá, Carocim e Veim) teve o seu cadastro aprovado pela Caixa Econômica Federal semana passada e nesta segunda-feira, 25, assinou os documentos na Secretaria Municipal de Infraestrutura e finalmente recebeu as chaves da casa.
O pedreiro contou que quando foi assinar os documentos na Secretaria de Infraestrutura estava tremendo de felicidade. Imaginava que agora teria um canto para botar os seus pertences. Ele disse que conversou com as senhoras da secretaria e elas aconselharam que ele ficasse calmo que tudo ia dá certo de agora em diante.
Em seguida ele seguiu para a casa de Antônio Francisco, onde havia deixado os documentos guardados. De posse da papelada, foi para a construtora Cagel, onde foi recebido por Fabielly de Sales Guerra, que tratou de entregar as chaves a Francisco de Assis. Em seguida, ele foi direto para a nova casa. (foto acima)
“Assinei ‘papé’ que nem presta”, falou o sorridente Francisco de Assis em contato com O MOSSORÓ HOJE. “Maior graça que Deus me deu”, diz Francisco de Assis, que não dormiu na casa nova na noite desta segunda-feira, 25. Foi dormir num barraco que restou em pé na Favela do Tranquilim, perto da casa do pedreiro Antônio Nunes Sobrinho, seu amigo pessoal.
Como agradecimento por ter conseguido a casa própria, Francisco de Assis vai pedalando fazer orações para São Francisco das Chagas, no Canindé/CE, distante 325 km de Mossoró. Ou seja, vai pedalar 650 kms de ida e volta. Relatou que vai apenas colocar um pneu novo na Poty, que segundo ele não precisa de freios, escolher uma dada e embarcar rumo ao Ceará.
“Vou agradecer a Deus pela graça alcançada e pedir muitas coisas boas para as pessoas que me ajudaram (este repórter, Carlos Paiva e duas servidoras da Secretaria de Infraestrutura que ele não lembra o nome) a conseguir minha casinha (parou a entrevista para dizer de novo que a casa é linda e que vai dormir na sala para preservar os quartos).
Galinho Marronzinho foi devolvido após matéria no MOSSORÓ HOJE
Outro motivo de grande felicidade de Francisco de Assis é que a pessoa que roubou seu galinho Marronzinho (estimação), depois que a história foi contada no MOSSORÓ HOJE, se arrependeu e o devolveu. “Ele veio com o galinho debaixo do braço e devolveu. Eu dei a ele uma câmara de ar para a bicicleta dele e comprei uma galinha para Marronzinho”, relata.
Francisco de Assis, quando morava no barraco, saiu para trabalhar e quase tudo que tinha dentro do barraco foi roubado. Entre os pertences mais importantes que foram levados, estão os documentos, o botijão, o fogão, roupas, material de trabalho de pedreiro, cadeiras, mesa, e o galinho Marronzinho (foi devolvido). Com relação aos documentos, ele tirou segunda via e anda com eles numa bolsa preta debaixo do braço.
Durante o período que aguardava a aprovação do cadastro na Caixa Econômica Federal, como estratégia para não ser roubado novamente, Francisco de Assis disse que espalhou para todo mundo que havia enterrado os documentos no mato, mas na verdade estavam todos guardados na casa do poeta Antônio Francisco, no bairro Alto da Conceição, em Mossoró.
Com relação ao galinho Marronzinho e o Jegue Roxin, de estimação, estão numa chácara pertencente também ao poeta Antônio Francisco, no Alto da Pelonha. Ele disse que comprou uma galinha pequena para fazer companha ao galinho. “Eu cuido das coisas lá da casa de Antônio Francisco, que é meu amigo das antigas”, destaca Francisco de Assis.
Sobre a nova casa, Francisco de Assis disse que encontrou as portas estouradas (foto acima). Destacou que vai fazer um muro na parte de trás da casa, para ter privacidade e oferecer privacidade aos vizinhos. Na frente, ele disse que não vai fazer muro, porque gosta de sentir o vento no rosto. Nesta terça-feira vai pedir à COSERN para ligar a energia.
Com relação as portas quebradas (por invasores antes da entrega das casas), a direção da Construtora Cagel, que fez a obra, informou ao MOSSORÓ HOJE que vai substituir, assim que Francisco de Assis entrar na casa. As outras casas do Jardim das Palmeiras que tiveram as portas quebradas também receberão os devidos reparos.
“É eu sozinho, Deus e meus amigos”
Francisco de Assis pediu para falar um pouco mais sobre a família. Disse que quando foi trabalhar na Maísa, durante a grande seca do final dos anos setenta/início dos anos oitenta, mandava todo o dinheiro que ganhava limpando plantio de cajueiro para os pais (José Camilo da Silva e Ciça Isabel Palhares) criar os dois irmãos no Sítio Manjericão, em Cerro Corá.
Depois da morte dos pais, os irmãos foram embora para região Norte do Brasil. Desde então não andou mais em Cerro Corá. Ele disse que fica muito triste quando vai lá. Relatou que já faz muitos anos (não lembrou quantos) que não vê os irmãos. Sabe que tem um sobrinho morando em Baraúna (filho do irmão), mas que também não o conhece.
“É eu sozinho, Deus e meus amigos”, diz Francisco de Assis. Porém, agora, na casa nova, não tem tristeza. É só alegria. “Quando eu cheguei lá, meus amigos foram lá falar comigo, conversar. Ajudaram a limpar a sujeita da casa. São pessoas muito boas”, diz.
Para se alimentar, Francisco de Assis disse que vai lá no restaurante Barriga Cheia e quando o pedreiro ‘Miúdo’, da Construtora, lhe chamar para trabalhar, se alimenta no canteiro de obras. De manhã, gosta de café puro, que ele mesmo fazia em casa quando tinha fogão e botijão. Para jantar, cozinhava um ovo e pronto. Não cogita em se casar de novo.
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Assista parte da conversa que o MOSSORÓ HOJE teve com Francisco de Assis na noite desta segunda-feira, 25, após ele receber a casa no conjunto Jardim das Palmeiras.
Mossoro Hoje