Após ser citado em delação,
assessor de Temer pede demissão
© image/jpeg Presidente Michel
Temer durante encontro com líderes políticos no Palácio do Planalto, Brasília
Brasília – O assessor especial do
presidente Michel Temer (PMDB), José Yunes, pediu demissão nesta quarta-feira
(14). A decisão de Yunes, que é amigo do presidente há 50 anos, ocorreu dias
após ele ser citado na delação premiada do ex-diretor de Relações
Institucionais da Odebrecht Claudio Melo Filho.
De acordo com o ex-executivo da
empreiteira, Yunes teria sido o intermediário de uma parte dos R$ 10 milhões
solicitados por Temer a Odebrecht para o pagamento de campanhas eleitorais do
PMDB em 2014.
Em carta, Yunes disse que
entregou cargo para “preservar dignidade e manter acesa chama cívica que me faz
acreditar nos imensos potenciais de meu país”.
No documento enviado a Temer, o
assessor especial do presidente afirmou ter visto “seu nome ser jogado no
lodaçal de uma abjeta delação”. Ele disse ainda que não conhece Melo Filho e
que nunca teve qualquer relação com o ex-diretor da Odebrecht.
Procurada por EXAME.com,
assessoria do Palácio do Planalto confirmou saída do assessor do presidente.
Leia a íntegra da carta enviada
por Yunes ao presidente Michel Temer:
“Caro Presidente,
Movido pelo alto interesse em
dedicar meu tempo à causa da Nação, depois de ter vivido fértil passagem pela
vida político-partidária, nas jornadas cívicas das décadas de 70/80, aceitei
convite de Vossa Excelência para assessorá-lo no Planalto, oportunidade em que
passei a conviver com experientes e altos quadros do seu Governo.
Seria uma honra ajudar o amigo de
50 anos a colocar o país nos trilhos, após a hecatombe que arrasou a economia,
proporcionando a maior recessão de toda a nossa história, jogando milhões de
pessoas nas ondas perversas do desemprego, minando a confiança de brasileiras e
brasileiros de todas as classes em governantes e instituições.
Nos últimos dias, Senhor
Presidente, vi meu nome jogado no lamaçal de uma abjeta delação, feita por uma
pessoa que não conheço, com quem nunca travei o mínimo relacionamento e cuja
existência passei a tomar conhecimento, nos meios de comunicação, baseada em
fantasiosa alegação, pela qual teria eu recebido parcela de recursos
financeiros em espécie de uma doação destinada ao PMDB.
Repilo com a força de minha
indignação essa ignominiosa versão.
Como advogado e pai de família,
que zela pelo dever de agir como cidadão sob os valores da honra e do zelo pela
expressão da verdade, em respeito à minha família, aos amigos e aos
concidadãos, não posso ver meu nome enxovalhado por irresponsáveis denúncias de
figurantes com quem nunca tive qualquer contato direto ou por terceiros.
Para preservar minha dignidade e
manter acesa a chama cívica que me faz acreditar nos imensos potenciais de meu
país, declino, Senhor Presidente, do honroso cargo de assessor da Presidência,
sem, porém, abdicar da admiração e da amizade que nos une desde os heróicos
tempos nas Arcadas do Largo de São Francisco.
Tenha em mim o leal amigo que o
acompanha há décadas e que o admira por suas incomparáveis qualidades, entre as
quais, o equilíbrio, a capacidade de harmonizar os contrários, a sapiência, o
respeito pelo outro, a determinação de fazer as grandes reformas que o país
exige e a vontade férrea de pacificar a Nação.
São Paulo, 14 de dezembro de
2016.
José Yunes
Advogado”