Equipe de governo escolhida por Trump assusta americanos
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump,
defendeu na quinta-feira (9) as escolhas de sua equipe de governo, que vem
sendo extremamente criticadas pela opinião pública e pela imprensa americana.
Segundo o bilionário, seu gabinete será um dos melhores da história do país.
Mas as mais suas recentes nomeações estão dando o que falar. As informações são
da Rádio França Internacional.
Nesta semana Trump anunciou que o comando da política
ambiental irá para um político que já disse não acreditar no aquecimento
global. Para posto equivalente ao de ministro do Trabalho, ele vai nomear o
presidente de uma rede de fast food que é contrário a qualquer aumento do
salário mínimo e inimigo declarado das centrais sindicais. Para a Secretaria da
Habitação, Trump escolheu o cirurgião Ben Carson, que já reconheceu
publicamente nada entender de projetos habitacionais.
Ben Carson foi escolhido para a Habitação, entre outros
motivos, por ser negro, já que Trump promete projetos voltados para a
comunidade negra nas grandes cidades, que votaram em peso em Hillary. E, para a
Educação, ele escolheu a bilionária Betsy DeVos, crítica justamente das escolas
públicas do país.
A imprensa e a opinião pública estão mais surpresos do que
satisfeitos com um governo que cada vez mais parece uma mistura de
ultraconservadores com amigos pessoais de Trump. As últimas três nomeações
fizeram com que ecologistas, cientistas, acadêmicos e sindicalistas recorressem
à velha imagem da raposa tomando conta do galinheiro.
Polêmica
O caso mais sério é o da escolha do advogado-geral do estado
de Oklahoma, Scott Pruitt, como o novo diretor da Agência de Proteção do Meio
Ambiente (Environmental Protection Agency - EPA) . Já no anúncio da escolha,
Trump enfatizou a criação de empregos e a implantação de uma nova política
energética, menos verde e mais tradicional.
Pruitt será o primeiro comandante da EPA a questionar o
consenso científico das causas das mudanças climáticas e do aquecimento global.
E mais: ele se notabilizou politicamente justamente processando o governo de
Barack Obama e se tornando o inimigo número um da indústria da energia
alternativa.
Muito próximo das grandes empresas de petróleo e gás,
Pruitt, ironicamente, passou cinco anos no comando da Justiça do Oklahoma
combatendo a agência que agora irá comandar. E, sendo muito próximo dos
lobistas do petróleo, ele ignorou solenemente os avisos de cientistas de que a
prática de extração de gás no estado através da fratura hidráulica, o chamado
fracking, aumentaria o risco de terremotos, o que se comprovou nos últimos
anos.
Gabinete controverso
Trump corre o risco de desagradar parte de seu eleitorado,
já que durante a campanha presidencial ele acusou Hillary Clinton de ser
próxima dos lobistas de Washington. Só que o seu novo ministério é recheado de
nomes ligados ao grande capital e aos lobistas da capital americana.
O novo secretário do Tesouro, Steve Munchin, por exemplo,
era uma das estrelas do Goldman Sachs, justamente o banco que Trump dizia ser a
encarnação do que há de pior em Wall Street. O novo secretário do Trabalho,
Andrew Pudzer, é um dos maiores inimigos dos sindicatos e defende o
investimento maciço em robôs para substituir empregados do setor alimentício.
Para o Comércio, Trump escolheu um milionário, Wilbur Ross,
dono de minas de carvão. Para a Saúde, o deputado Tom Price, soldado aguerrido
do lobby dos planos de saúde e inimigo número um de qualquer reforma da saúde
que inclua uma opção pública.
O novo gabinete, pois, é um dos maiores paradoxos do
gabinete Trump. É bom que se diga que um dos principais postos do novo governo,
o de secretário de Estado, só será anunciado na semana que vem. Se for
confirmado, o ex-governador Mitt Romney terá o ministério com as contas
bancárias mais recheadas de todos os tempos nos EUA.
Como se não bastasse, na área da Defesa há um trio de
generais da reserva em postos-chave, como o aposentado da Marinha James Mattis,
de 66 anos, apelidado de “Cachorro
Louco” (Mad Dog), que será o secretário do Departamento de Defesa. Todos com
posições radicais contra o Irã e que defendem uma mudança de eixo da política
externa americana, a ser mais focada no combate ao terrorismo de fundo islâmico
e no apoio ainda mais incondicional a Israel, deixando em segundo plano o
Extremo Oriente e a Autoridade Palestina.
Em resumo, é uma guinada radical em relação ao governo Obama
e com pouca possibilidade de oposição dos democratas, que são minoria no
Legislativo, tanto no Senado quanto na Casa dos Representantes (equivalente à
Câmara dos Deputados).